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Olhando o futuro da energia

Revista O Instalador17/09/2018
Tem-se assistido nos últimos 30 anos a uma evolução muito grande no setor da energia. Essa transformação aconteceu primeiro no setor da produção e da eficiência e só muito mais tarde é que começou a ser sentida pelos consumidores, mas, estou convencido que a consciencialização para o tema ainda não foi totalmente interiorizada por esses mesmos consumidores e, enquanto tal não acontecer, não teremos devidamente implementada a transição energética necessária à civilização.
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Texto: António Sá da Costa [Presidente da Direção da APREN]

Mas antes de falar sobre o futuro vou debruçar-me de forma rápida sobre as transformações que têm acontecido no setor da energia de forma a enquadrar aquilo que julgo ser o seu futuro.

Neste artigo irei debruçar-me sobre o panorama português se bem que muitos dos aspetos aqui versados sejam também aplicáveis, com as devidas alterações e enquadramento, a outros países europeus ou não.

Já foi percebido que a energia nunca foi barata, apesar de no passado se ter pago pouco por ela, pois nem todos os custos estavam incorporados no preço suportado pelos consumidores. Hoje sentimos bem na fatura as consequências dessa estratégia, se bem que haja ainda muita gente que não aceita que se paguem todos os custos devendo o “Estado” cobrir aquilo que não queremos pagar, como se o dinheiro caísse do céu.

Muitas vezes é confundida energia com eletricidade. Em Portugal o consumo elétrico apenas representa pouco mais do que um quarto do consumo total de energia. Os restantes usos, os Transportes e o Aquecimento e Arrefecimento, quase que dividem em partes iguais os restantes 74%.

Já foi entendido que a eficiência energética e o uso racional da energia fazem baixar a fatura energética. Mas ainda há resistência a perceber o verdadeiro alcance destes conceitos. Já foi percebido que substituir uma lâmpada de incandescência por uma de LED diminui o consumo de eletricidade para cerca de 10%, apesar do custo desta nova lâmpada ser maior que o da antiga.

Não se percebeu ainda que um veículo elétrico consome menos entre 75 a 80% da energia que um veículo com motor de combustão interna. Porque é que não se faz a transição entre estas tecnologias? Um veículo elétrico tem um custo inicial mais elevado, é verdade, mas as contas devem ser feitas com todos os encargos incluídos ao longo da vida, englobando os custos com a energia e manutenção, que podem compensar largamente o custo inicial do veículo elétrico.

Já se percebeu que o uso dos combustíveis fósseis, para produzir eletricidade ou para uso nos transportes ou qualquer outro uso energético, não só obriga á sua importação, com a correspondente saída de divisas, como emite gases que provocam o efeito de estufa, e as consequentes alterações climáticas, que irão afetar seriamente o nosso País.

A eletricidade resultante de fontes renováveis não emite gases com efeito de estufa, faz diminuir a nossa dependência e a fatura energética do exterior, o que é bom. Mas não se entendeu ainda como funciona a formação dos preços da eletricidade, nomeadamente os benefícios que a eletricidade de origem renovável traz no abaixamento do valor do mercado grossista, nem na estabilidade e previsibilidade que ela induz nos preços. Continua a achar-se, erradamente, que a eletricidade de origem renovável é que faz subir o preço da eletricidade.

Menos ainda se percebeu, e agora não me refiro apenas aos consumidores domésticos, mas a muitos consumidores empresariais e mesmo a muitas pessoas com responsabilidades no setor, que o atual sistema de mercado, funcionou bem quando a produção de eletricidade foi maioritariamente feita a partir de centrais térmicas fósseis, mas não funciona de todo quando a produção de eletricidade é maioritariamente usando fontes renováveis, como é o caso de Portugal onde já está acima de 54%. Isto porque o sistema do mercado atual é um mercado marginalista do preço do combustível, e o “combustível” das centrais renováveis (água, vento e sol) têm custo zero.

Não vou aqui explicar como funciona o mercado atual e como deveria funcionar pois isso alongaria muito este artigo, mas não posso deixar de mencionar que muitos países já se aperceberam desta nova realidade tendo definido um processo competitivo para remunerar a eletricidade das novas centrais renováveis, trazendo este novo método um abaixamento real do custo para o consumidor, o que não se está a passar em Portugal. Não estou a reclamar apoios e subsídios, pois isso foi necessário no passado, ma agora com as tecnologias estão maduras já não é necessário.

Julgo ser altura para olharmos para o que se vai passar com a evolução futura no setor da energia, percebermos onde queremos estar daqui a 30 anos, digamos em 2050, e depois ver qual o caminho a percorrer e como o percorrer.

O que pauta esse futuro é o Acordo de Paris assinado em dezembro de 2015, já pelo atual Governo, e onde se define como objetivo a descarbonização da economia o mais rapidamente possível para evitar que a temperatura da Terra aumente mais de 2oC até ao final do século XXI.

Também o nosso primeiro-ministro tem defendido, e bem, que Portugal deve de ser neutro de carbono até 2050. E estes são os dois princípios, que se complementam, e que vão nortear nos próximos 30 anos todo e qualquer uso da energia. Mas talvez o leitor ainda não perceba o alcance destes princípios, mas passo a explicar, usando para tal os dados mais recentes da APA - Agência Portuguesa do Ambiente (2016).

Em Portugal emite-se por ano cerca de 69 Mt (Mega tonelada = milhão de tonelada) de CO2 equivalente, e no mesmo período as florestas, sem incêndios, absorvem 8 MT desses mesmos gases. Por outras palavras se pretendemos ser neutros de carbono, e partindo do princípio que tudo se mantém como hoje, teremos de emitir menos 61 Mt do que emitimos hoje, pois só assim é que os gases absorvidos pelas florestas seriam iguais aos emitidos pelos usos da energia.

Dito assim, é fácil de perceber, mas muito difícil de executar. Vejamos como é que a APA chega às 69 Mt de emissões: a eletricidade contribui co 14.6 Mt (ou seja 21.1% do total de emissões), os transportes 16.2 Mt (23.5%), a energia em processos industriais 17.4 Mt (25.2%), os processos industriais 7.6 Mt (11.0%), a agricultura 6.6 Mt (9.6%), os resíduos 6.4 Mt (9.3%) e outros 0.2 Mt (0.3%).

Para cumprir os objetivos traçados todos os usos de energia teriam de reduzir as emissões de 88.4%, isto é a soma das emissões de todos os setores em 2050 terá de ser 8 Mt.

Tenho defendido que em termos médios é possível que até 2040 o setor da produção de eletricidade seja 100% renovável, o que significa que desapareceriam da contabilidade acima 14.6 Mt, devendo então todos os setores reduzirem as suas emissões de 85.3%.

Por outras palavras as emissões por setores em 2050 passarão a ser: a eletricidade 0.0 Mt, os transportes 2.4 Mt, a energia em processos industriais 2.6 Mt, os processos industriais 1.1 Mt, a agricultura 1.0 Mt, os resíduos 0.9 Mt e os outros praticamente nulo.

Esta tarefa é hercúlea e terá de envolver todos, desde o mais modesto cidadão até à maior empresa, desde a coletividade de bairro até a todas as agências governamentais.

Na eletricidade estamos a fazer o caminho. Em 2000 o consumo rondava 30 TWh, em que pouco mais de 30% era de origem renovável, e hoje em dia esse consumo excede 50 TWh, isto é, aumentou mais de 60% e a fração de renovável aproxima-se de 55%. Em 2050 o consumo de eletricidade rondará 65 TWh e esperemos que sejam 100% de origem renovável.

Nesta transição também estou certo que o custo no consumidor da eletricidade será mais controlado e substancialmente mais baixo de que se a geração fóssil tivesse um peso maior.

Por enquanto nos outros setores muito pouco se tem feito, e muito há a fazer, e na minha opinião será mais difícil de atingir esses objetivos. Uma das formas de se dar um passo nesse sentido é a da eletrificação dos usos da energia, pois uma grande parte desses usos são mais eficientes, por exemplo nos transportes, desde que essa eletricidade seja de origem renovável. Também na área dos transportes a mudança de comportamentos será fundamental, como por exemplo o passar-se a usar mais os transportes públicos, de preferência elétricos.

Nos outros setores a transformação a operar será ainda mais difícil, mas por exemplo o uso do sol para aquecer as águas sanitárias, ou de caldeiras a pelletes para aquecer o ambiente, são duas ótimas soluções que não recorrem à eletricidade e ajudam a cumprir o objetivo.

Outro papel importante será, quando possível, o de gerarmos a nossa própria eletricidade, em nossas casas ou em instalações industriais ou outras. Soluções haverá certamente muitas, é só puxarmos pela cabeça e pormos mãos à obra, resolvendo nós os problemas sem ficar à espera de mão estendida que apareça um subsídio, pois a médio prazo a solução que encontrarmos será certamente mais económica do que a que temos atualmente.

Não nos podemos esquecer que prosseguindo este objetivo a Economia do País agradece e o Planeta Terra também.

Nota Editorial: Artigo publicado no Dossier renováveis, na edição de Julho/Agosto de 2018 da nossa revista.

Caso queira aceder ao artigo e à edição, na íntegra, contacte-nos através dos seguintes meios:

Telefone: 21 761 57 20

E-mail: oinstalador@gmail.com

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