BI295 - O Instalador

79 INVESTIGAÇÃO e identificar medidas de mitigação adequadas, cientistas do CERIS, juntamente com investigadores do SINTEF (Noruega) e SJE (Alemanha), desenvolveram e adaptaram uma ferramenta informática que permite avaliar o impacto do hydropeaking num curso de água. “A ferramenta informática foi desen- volvida inicialmente na Noruega para o salmão. No projeto, adaptámos a mesma ferramenta às espécies mais comumente encontradas nos rios ibé- ricos e do centro da Europa”, refere Isabel Boavida, que teve a seu cargo o desenvolvimento da ferramenta informática por parte do CERIS. Este instrumento permite analisar, acima de tudo, o impacto de uma central hidroelétrica na população piscícola, tendo em conta o estado de vulnerabilidade do curso de água e o esquema de operação de uma central hidroelétrica. “A ferramenta é bastante útil para avaliar os impactos de uma central hidroelétrica funcio- nando em regime de hydropeaking no ecossistema ribeirinho, permitindo também avaliar os efeitos das medi- das de mitigação a propor, se tal se justificar”, clarifica. Entre os principais resultados do pro- jeto encontra-se o Sistema de Apoio à Decisão FIThydro, que pode ser uti- lizado no planeamento e avaliação de aproveitamentos hidroelétricos. Através da inserção dos dados relati- vos ao tipo de aproveitamento, à sua localização, às populações piscícolas presentes nos cursos de água, entre outras carateristicas, o utilizador poderá perceber o nível de risco ambiental e a perigosidade representada para as populações de peixes. Além disto, o sistema fornece também recomenda- ções quanto às medidas de mitigação a adotar. OS IMPACTOS NEGATIVOS DA PRODUÇÃO HIDROELÉTRICA QUE É PRECISO TER EM CONSIDERAÇÃO As alterações climáticas são hoje con- sideradas a maior ameaça ambiental do século XXI, constituindo uma preo- cupação transversal e levando ao forte desenvolvimento de energias reno- váveis, seja pela implementação de novos sistemas ou pelo aumento da capacidade energética dos mesmos. A hidroeletricidade é uma das fontes de energia renováveis mais impor- tantes e mais utilizadas. Talvez por ter uma grande vantagem asso- ciada: depende muito menos das condições meteorológicas do que a energia eólica ou a energia solar, sobretudo, em aproveitamentos com capacidade de armazenamento e em regiões com regimes de escoa- mento regulares ao longo de todo o ano. Contudo, a produção hidroelé- trica acarreta impactos ambientais negativos, nomeadamente: a regu- lação do caudal dos rios, alterações diversas nos habitats aquáticos e a mortalidade dos peixes causada por turbinas, descarregadores e grelhas. “Os aproveitamentos hidroelétricos com albufeira de regularização, devido à sua capacidade de armazenamento, conseguem responder aos picos de procura de energia, para os quais, tanto a energia solar como a eólica não têmcapacidade de resposta. Desta forma, a energia hídrica deverá ser sempre uma prioridade estratégica, num sistema de produção híbrido, comdiferentes fontes de energia reno- vável”, explica a investigadora Isabel Boavida. Ainda assim, e apesar de ser uma energia dita “limpa”, “as conse- quências para os ecossistemas que as suportam são diversas”, tal como alerta a investigadora do CERIS. Por isso mesmo, “é necessário desenvolver medidas de mitigação que atenuem esses impactos sob pena de se verifi- car a degradação dos habitats, com potenciais custos para a biodiversi- dade”, conclui. n

RkJQdWJsaXNoZXIy Njg1MjYx