BI296 - O Instalador

A VOZ DA QUERCUS 66 Carmen Lima | Coordenadora do Centro de Informação de Resíduos da Quercus Há 25 anos, a gestão dos resíduos constituía um dos principais problemas ambientais e sociais à época em Portugal, com a falta de soluções para o seu tratamento e reciclagem, sendo o principal destino a deposição em lixeiras a céu aberto. A história do nosso lixo As respostas para o tratamento do lixo eram escassas e deficitárias, e as que existiam não eram, de todo, a solução mais eficaz. O tratamento dos resíduos urbanos não era uma prioridade da época e não existia uma estratégia para o mesmo. Estas lixeiras proliferavam por todo o território nacional, e aqui não eram apenas despejados resíduos de origem urbana. Para aqui vinham resíduos de origem industrial, perigosos e não perigosos, hospitalares e até carcaças de animais mortos. Uma verdadeira ameaça para o ambiente e para a saúde pública. O lixo que aqui era despejado fermen- tava ao sol e ardia em combustões lentas, libertando para a atmosfera componentes perigosas, ou infiltrando- -se no solo comas chuvas, contribuindo para a contaminação das águas sub- terrâneas, muitas vezes, usados para rega ou consumo. Era urgente agir! Na região da Grande Lisboa, a imensa lixeira em Beirolas, ganhava notorie- dade junto da maioria dos habitantes. Neste período crítico, a Quercus teve umpapel fundamental para esta área, com a realização de dois estudos importantes, como a caraterização da situação nacional em matéria de reciclagem e a avaliação do setor dos resíduos urbanos, que acabaram por servir de base para a organização de uma estratégia nacional. E aqui foi o ponto de viragem, o setor foi-se orga- nizando e surgiu a responsabilização do produtor, para o qual foi atribuído uma eco-taxa a quem colocava emba- lagens do mercado que no futuro se transformavam em lixo. Esta medida permitiu criar um sistema que garante uma resposta para a maioria dos resí- duos urbanos – embalagens de papel e cartão, vidro, metal ou plástico, eletro- domésticos e equipamentos elétricos e eletrónicos, pneus ou medicamen- tos fora de prazo e suas embalagens. As mais de 300 lixeiras a céu aberto foram, entretanto, substituídas por 34 aterros sanitários. No final dos anos 90 começou-se a equipar as grandes cidades com sistemas de gestão dos resíduos urbanos. Surgiram os primeiros Ecopontos e Ecocentros, que asseguram o destino final adequado para os Resíduos urba- nos em todo o território nacional. O ano de 2001 fica marcado pelo encer- ramento da última lixeira. A IMPORTÂNCIA DO MOVIMENTO AMBIENTALISTA E DA QUERCUS Ao longo destes últimos 25 anos omovi- mento ambientalista, e a Quercus em particular, conseguiu influenciar e con- tribuir para que a gestão dos resíduos fizesse parte da agenda e que as medi- das para melhorar este setor viessem a ser concretizadas. O problema dos resíduos – urbanos, industriais peri- gosos e hospitalares -, tem sido alvo de várias polémicas publicas a que Portugal assistiu: durante décadas tiveram como destino todo o tipo de destinos menos o que deveriam ter. O caminho foi-se percorrendo. Fora das cidades o embaraço que a expan- são dos novos lixos gerou ficou bem claro no movimento 'Vamos Limpar Portugal', que em 2010 levou às ruas 100.000 portugueses numa das maio- res ações de cidadania antes vistas. Foi nessa altura que o país encarou a gravidade do problema do lixo deitado fora caoticamente por toda a parte.

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