BI297 - O Instalador
65 RADIOGRAFIA DAS RENOVÁVEIS EM PORTUGAL da Central Termoelétrica de Sines – a maior central produtora de energia elétrica do país – ocorrido já em janeiro de 2021 e o muito provável encerra- mento da Central Termoelétrica do Pego em novembro próximo, as quais, conjuntamente, totalizam uma potên- cia instalada superior a 1700 MW. Para o Operador do Sistema, a eletricidade produzida a partir do carvão deixa, assim e definitivamente, de fazer parte do portfólio disponível. Em sentido contrário, perspetiva-se que em2021 e 2022 entremao serviço cerca de 700 MW de capacidade instalada de produção fotovoltaica. Estes inves- timentos deverão continuar em 2023, aos quais, previsivelmente, se somarão os empreendimentos hidroelétricos de Daivões e Gouvães, com uma potên- cia instalada ligeiramente inferior a 1000 MW, inseridos no sistema eletro- produtor do Tâmega, que tem a sua conclusão total prevista para 2024. A configuração do portfólio de produção de energia elétrica em Portugal sofre, assim, uma franca alteração, com a crescente preponderância da produ- ção de origem renovável. Se, no curto prazo, as mudanças observadas em Portugal e um pouco por toda a Europa não terão, global- mente, um impacto significativo na operação do sistema elétrico, com a continuidade do processo de transição energética, e mantendo-se o plano de investimentos europeu previsto até 2030, terão necessariamente de se observar alterações. A plenitude e o sucesso da transição energética dependem da superação dos desafios que se avizinham. Para tal, o armazenamento de energia elé- trica, o aumento da flexibilidade do consumo e um adequado desenho dos mecanismos de mercado - que se demonstre estruturante e agrega- dor - são três pilares fundamentais. Devido às variações constantes do consumo, o sistema elétrico sempre precisou de determinado grau de fle- xibilidade, pois o equilíbrio geração/ carga deve ser assegurado. Na perspe- tiva tradicional do sistema elétrico, a flexibilidade provém, essencialmente, da geração, com centrais térmicas ou hidroelétricas (onde se inclui a bombagem), às quais se juntam as interligações. Porém, a acomodação de quantidades significativas de geração variável introduz desafios para o setor. Para que se incorpore, e incremente, uma grande quantidade de gera- ção variável, particularmente eólica e solar, afigura-se como essencial um planeamento adequado que, necessa- riamente, deverá incluir mecanismos de reserva de energia. Estes mecanismos, que carecem ainda de diversificação, contarão com o papel preponderante que o gás natural tem apresentado, e continuará a apresentar, durante a corrente década. A complementari- dade com a geração hidroelétrica é igualmente fundamental, mas, e ao contrário do gás natural, prevê-se que esta se mantenha relevante, para a produção de energia elétrica, para lá de 2030. Todavia, o armazenamento de energia elétrica (storage) será uma figura central dos sistemas de energia, conferindo e reforçando o nível de fle- xibilidade, mas podendo, igualmente, contribuir para a sua resiliência. Além disso, o incremento da flexibi- lidade do lado do consumo é já uma realidade incontornável. No caso de Portugal, desde 2019 que os consumi- dores com uma potência superior a 1 MW podem participar no mercado de Serviços Sistema, aumentando a panóplia de opções disponíveis para garantir a manutenção do equilí- brio do sistema. No futuro, com um adequado desenvolvimento da tec- nologia e dos procedimentos, será possível agregar pequenos consu- midores, aos quais, está atualmente vedada a participação neste tipo de serviços de flexibilidade. Antevê-se que os recursos distribuídos terão uma importância crescente no setor elétrico, providenciando uma comple- mentaridade às formas convencionais de flexibilidade, que se observam do lado da geração. Descarbonização, descentralização e digitalização, são conceitos que estarão no epicentro dos sistemas de energia, sendo que as comunidades energé- ticas terão um papel importante no desenho do sistema elétrico, permi- tindo aos cidadãos ter um papel ativo, tanto no consumo como na produção de energia, com consequente benefí- cio para os intervenientes envolvidos. Todavia, à medida que se observam e perspetivam modificações no arma- zenamento de energia elétrica e na flexibilização do consumo, vai aumen- tando também a complexidade de todos os mecanismos associados à transição energética. Particularmente, no que respeita aos desenhos atuais dos mercados de eletricidade, nas suas mais variadas dimensões, observa-se que estes não aparentam satisfazer as necessidades e salvaguardar as idiossin- crasias de todos os seus constituintes. Afigura-se, assim, a necessidade de definir novos mecanismos visando promover soluções que permitam uma efetiva aplicabilidade em todos os mercados, incluindo dos serviços sistema, no sentido de aumentar a interoperabilidade e cooperação entre os atores envolvidos, e contribuindo, assim, para uma transição energética sustentável e segura. n Pedro Frade.
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