BI304 - O Instalador

64 RENOVÁVEIS | FOTOVOLTAICO fizer um raciocínio semelhante para a ocupação de espaço com parques eólicos, com isso não se conseguirá melhorar significativamente a mancha de ocupação geográfica nem o impacto visual que as torres eólicas também representarão. A reflexão desenvolvida nos parágrafos anteriores tempor objetivomostrar que: • O esforço tecnológico e económico para descarbonizar as atividades humanas nos próximos 30 anos será gigantesco principalmente porque, como podemos ver na figura 2, está quase tudo por fazer (principalmente o desenvolvimento de uma eletrificação descarbonizada generalizada); • Se hipoteticamente enveredarmos pela aplicação exclusiva de tecnologias que aproveitem unicamente recursos renováveis (pela sua extrema diluição espacial e já agora também pela sua intermitência), a sua competição pela ocupação de espaço com outras atividades humanas, como a agricultura e floresta, a gestão de uma maior instabilidade na disponibilidade de energia nas redes, para não falarmos da pressão que a dispersão geográfica dessas tecnologias renováveis exercerá sobre os próprios ecossistemas naturais, não se afigura nem técnica nem socialmente pacífica. Face ao exposto, parece-nos que o desenvolvimentomais razoável passará por forçar a substituição da totalidade da dependência do carvão edopetróleo (estes representam 58% do consumo global de energia) por uma combinação heterogénea de soluções que incluirão, todas as formas possíveis de renováveis (que representará a adequação de uma área geográfica equivalente ao espaço ocupado por todas as zonas urbanas existentes em todos os continentes), o nuclear de fissão (reatores de nova geração com caraterísticas modulares [4]) e o gás natural (este se possível mantendo a sua proporção atual que é de aproximadamente 30% da combinação atual de fontes de energia). Desta forma os ecossistemas naturais teriam capacidade para absorver o carbono libertado pela produção de energia resultante do gás natural e a produção renovável (que hoje não representa mais do que 14% da combinação) deverá aumentar para, pelo menos, 50% a sua representatividade (passar de 1.978 MTEP para 7.141 MTEP, um aumento de 360%) e os restantes 20% terão de ser colmatados pela produção de eletricidade com recurso a fontes nucleares (passar dos atuais 707 MTEP para 2.856 MTEP, um aumento de 400%) usando reatores nucleares os quais disponibilizam potências na ordem dos 300 MW, o que corresponderá à instalação de aproximadamente 10.000 reatores nuclearesmodulares [5], [6] na proximidade de todos os centros urbanos do planeta (cerca de 14 reatores nucleares modulares por cidade, em média). Desta forma, a combinação da produção de eletricidade proveniente do nuclear e do gás natural seriam os responsáveis por desenvolver a estabilização de último recurso das redes. Os restantes 50% da energia serão providenciados pela combinação de todas fontes renováveis que estarãodisponíveis. Para concluir, podemos dizer que a tarefa que temos entre mãos para descarbonizar/neutralizar a emissão de gases comefeito de estufa não será uma batalha com uma única frente. Efetivamente, teremos que resolver o problema da eletrificação intensiva das economias e, ao mesmo tempo, teremos de encontrar tecnologias que nos permitam transformar a energia elétrica noutros recursos energéticos, os quais, serão facilmente acoplados na indústria e nos sistemas de transporte pesado (camiões, navios, comboios, aviões, etc.). Neste momento, existem apostas diversas (que parecem ser prometedoras) nomeadamente as baterias químicas (Lítio, Sódio, Vanádio, etc.), o hidrogénio e seus derivados (metano/ metanol, amoníaco, etc.), bem como muitas outras formasdearmazenamento físico (ar líquido/comprimido, sais fundidos, etc.). Teremos que manter, e até reforçar, uma combinação de fontes de energia não renováveis, como será o nuclear e o gás natural. Será fundamental intensificar-se omelhoramento da eficiência na utilização de todos os recursos energéticos (ao nível global haverá seguramente espaço para mitigar desperdícios nos consumos na ordemdos 20% ou 30%). Teremos que empreender campanhas de reflorestação em espaços rurais e estimular a arborização dos espaços urbanos (para se reforçar a captura natural de carbono). Desenvolver tecnologias que permitam fazer a captura de dióxido de carbono (por exemplo para a síntese combustíveis sintéticos: metano, metanol, etanol, etc.). Por último, e nãomenos importante, será necessário reeducar as populações para que as mesmas aceitem com menos receio a introdução de pequenos reatores nucleares (SMR) que, embora estes sejammuito mais seguros que a tecnologia nuclear convencional, terão que estar muito mais próximos dos espaços habitados. n REFERÊNCIAS [1] International Energy Agency: Key World Energy Statistics 2020 (https://www. iea.org/reports/key-world-energy-statistics-2020); [2] Vaclav Smil (2017). Energy Transitions: Global and National Perspectives. & BP Statistical Review of World Energy (https://ourworldindata.org/energy-production-consumption); [3] FAO: Forests and Climate Change - Carbon and the Greenhouse effect (https:// www.fao.org/3/ac836e/AC836E03.htm); [4] IAEA International Atomic Energy Agency: (https://www.iaea.org/topics/small- -modular-reactors/smr-regulators-forum); [5] Small Nuclear Power Reactors (http://www.world-nuclear.org/information-library/nuclear-fuel-cycle/nuclear-power-reactors/small-nuclear-power-reactors.aspx); [6] NUSCALE (https://www.nuscalepower.com/).

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