BI304 - O Instalador

76 DOURO VINHATEIRO | EFICIÊNCIA DOS SISTEMAS António Belém Lima trouxe dois exemplos de adegas no Douro, com caraterísticas diferentes, "o que as une é o pensamento arquitetónico, mas depois divergem porque têm problemas e dimensões diferentes". A Adega Alves de Sousa foi um dos casos que deu a conhecer, "demorou sete anos a fazer", explicou, lembrando que o tempo de execução está relacionado com "os problemas destes investimentos". O projeto começou em 2008 e a obra terminou em 2015. BelémLima realçou que "o que se pede ao arquiteto é que pense a arquitetura para o espaço onde está. A primeira coisa que um arquiteto necessita é de uma ideia que leve o projeto até ao fim". "Uma adega esconde o vinho, incorpora uma espécie de segredo, é um compacto de sensações, e é também o gozo da surpresa. Além disso, a arquitetura também tinha o desafio do elogio do clima, com um terreno muito declivoso, como é a maior parte do Douro. E havia ali uma engenharia 'enterrada', muito de acordo com a tradição dos produtores de vinho, de enterrar as adegas, com a ajuda da climatização que se consegue. Aproveitou-se então o declive, paralelo às linhas de topografia, de forma a criar uma espécie de umabrigo passivo. E isso também ajuda a dramatizar a luz, uma coisa muito da arquitetura, contar com a luz como matéria de projeto e de construção". Nesta explicação arquitetónica que levou à construção desta adega, o arquiteto recorda também a importância do "elogio da paisagem. A adega foi construída num terreno difícil, com um serpentear de uma estrada nacional, e com toda a diversidade da paisagem. Em termos de programa, o projeto tentou ser o mais funcional possível, ainda assim a tarefa do arquiteto passa por saber como o dispõe. Falamos de um projeto com três pisos e uma cobertura, e a disposição das coisas tem a ver com o aproveitamento que queremos fazer da posição", sublinhou Belém Lima. “No nível 3, de acesso à adega, temos a receção das uvas, a zona dos lagares, a linha de engarrafamento e o semi- -acabado e o acabado”, descreveu o arquiteto. Já no nível -1, o mais baixo, o designado 'enterrado', situa-se a sala de barricas e a vinificação. Finalmente, "há uns programas complementares, que começam a ter cada vez mais importância nas adegas, como sendo a localização da loja de venda de vinhos e a sala de provas". Em relação à construção, salienta o arquiteto, esta adega "não é canónica", no sentido de ser uma adega feita com pedra de xisto da região, "ela é feita completamente em betão, revestida com um tijolo preto. É uma parede ventilada, onde conseguimos uma neutralidade de temperatura na zona de 'enterradas' e na zona de vinificação, por exemplo, não é necessário máquinas para manter a climatização. Obviamente nos lugares onde essa climatização temde ser regida por valores (como é o caso da sala de barricas, do laboratório), das zonas que obrigam a ter controlo de temperatura, aí há alguma climatização". A adega, referiu, também tem ventilação constante, contínua, na zona da vinificação e depois a criação do ambiente geral. Do ponto de vista estético, "a adega é uma espécie de um enigma, assumindo-se como um intruso especial na paisagem. E é nisto que ela simboliza o elogio da paisagem, porque podemos passar por ela sem dar por isso". O outro caso que Belém Lima deu a conhecer foi a adega da Lavradores de Feitoria, Vinhos de Quinta S.A., um projeto criado em setembro de 2000 e que resultou da união de 15 lavradores, proprietários de 18 quintas distribuídas pelos melhores terroirs do Douro, repartidas pelas três sub-regiões (Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior). Atualmente compõe a estrutura da empresa: 48 acionistas, dos quais 15 são produtores de uva e 19 quintas. Juntos, somamuma área total de vinha superior a 600 hectares. Quanto à adega propriamente dita, demorou quatro anos a construir. "A adega tambéméuma espécieda escrita do enólogo. Quando o enólogo pensa na sua adega, nós percebemos que isso pode ser importante para o projeto, e vi isso nas reuniões que tive com os enólogos", lembrou António Belém Lima. “Falamos de uma adega maior que a de Alves de Sousa e a ideia foi sempre pautada pela receção das uvas e na expedição do vinho, e da importância estratégica destas duas coisas”, afirma o arquiteto, lembrando que estes dois momentos sãomuito simbólicos neste projeto pela importância que têmpara os Lavradores de Feitoria. A adega demorou quatro anos a construir. Foto: Lavradores de Feitoria.

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