ENTREVISTA 71 Fale-me um pouco deste estudo realizado junto dos setores Agroalimentar, Cerâmica/Vidro e Plásticos/ Borrachas e a que conclusões mais importantes, a nível energético, chegaram. Portugal atingiu em 2019 o valor mais elevado de exportações, 95.6 mil milhões de euros o que correspondeu a 45% do produto interno bruto. Por ter ummercado local com dimensão reduzida, as empresas portuguesas dificilmente são competitivas na produção em escala, facto agravado por maiores custos de transporte devido à localização periférica. No entanto, Portugal possui recursos de energia endógenos que podem conferir uma vantagem competitiva às empresas através da produção descentralizada de energia, através de tecnologias como a solar, eólica ou biomassa. Uma análise a três setores relevantes para as exportações, nos quais, a Helexia desenvolveu projetos de centrais fotovoltaicas descentralizadas, permite concluir que as indústrias podem reduzir os custos com energia elétrica até 24% e aumentar o EBIT em 2 pontos percentuais. Sendo setores exportadores e competitivos, que medidas é possível já dar nota a nível da sua implementação rumo à eficiência energética? Este estudo foca-se no consumo de energia elétrica e os três setores analisados estão em fases diferentes de maturidade relativamente ao seu autoconsumo, ou de geração local de energia. Enquanto o setor Agroalimentar tinha, em 2019, uma quantidade de energia elétrica gerada localmente de 3.2% do consumo total, os setores da cerâmica/vidro e plásticos/borrachas tinham apenas 0.5%. A análise da Helexia conclui que todos os setores têm um potencial de crescimento para um autoconsumo superior a 10%, sabendo que individualmente diversas instalações industriais têm a capacidade de absorver até 40% de eletricidade gerada localmente. Sendo a energia um dos fatores mais importantes a nível de competitividade, que radiografia é possível fazer nestes setores no que respeita a uma estratégia prioritária? A produção de eletricidade local é, provavelmente, amedida prioritária e com retorno mais rápido. As empresas podem optar por um investimento com capitais próprios e um payback simples da ordem dos cinco anos. Ou podem optar por investimento externo, tipicamente a 15 anos, e beneficiar de um desconto imediato da ordem dos 30% sobre os custos de eletricidade. Como segunda prioridade, as empresas devem praticar uma gestão ativa da sua energia. Por gestão ativa entende-se a monitorização contínua dos consumidores internos de energia, a análise sistemática de tendência e desvios, e a comunicação com os utentes da instalação. Estima-se que a gestão ativa da energia, com uma equipa dedicada a analisar e estimular bons comportamentos, consegue obter reduções da ordem dos 6% dos consumos. E, finalmente, como terceira prioridade, as empresas devem converter os equipamentos menos eficientes e emissores de gases com efeitos de estufa, como o dióxido de carbono (ou CO2). Por exemplo, numa indústria alimentar com necessidades de vapor para o processo produtivo, pode converter-se um gerador de vapor a gás natural para uma caldeira a biomassa com alimentação automatizada. Além de poupanças imediatas da ordem dos 15%, incluindo custos operacionais e de investimento, obtém-se uma redução drástica de emissões de CO2. Quanto a redução de emissões, a que conclusões gerais chegaram? Voltando ao estudo sobre a geração de energia elétrica descentralizada, a tecnologia solar fotovoltaica permite gerar eletricidade sem emissão de gases com efeitos de estufa. Por oposição, a energia fornecida por um comerAGROALIMENTAR CERÂMICA E VIDRO PLÁSTICOS E BORRACHAS Consumo energia elétrica do setor 3 152 GWh 1 913 GWh 1 136 GWh Autoconsumo atual 3.2% 0.5% 0.5% Autoconsumo potencial 10.2% 13.4% 13.3% A produção de eletricidade local é, provavelmente, a medida prioritária e com retorno mais rápido. As empresas podem optar por um investimento com capitais próprios e um payback simples da ordem dos cinco anos
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