BI317 - O Instalador

61 DOSSIER RENOVÁVEIS HÍDRICA Após a invasão da Ucrânia, os preços da energia dispararam: as reduções no fornecimento de gás pela Rússia aumentaram significativamente os preços do gás natural e, consequentemente, os preços da eletricidade, visto que as centrais térmicas costumam definir os preços nos mercados de eletricidade marginalistas. Para alémdisso, a produção de energia nuclear em França foi prejudicada por trabalhos demanutenção e reparações, bem como pelos baixos níveis de água dos rios usados para arrefecimento. Como consequência da redução na disponibilidade hidroelétrica na Europa e da situação nuclear, uma maior produção térmica foi necessária para a substituição da hídrica, aumentando ainda mais os preços. Em Portugal, a produção hidroelétrica é uma das mais relevantes para o sistema. Historicamente representa entre 13-28% do consumo anual, dependendo da variabilidade hídrica (Figura 1), avaliada através do índice de produtibilidade hidroelétrica. Este indicador quantifica o desvio de produção hídrica em relação a um regime hidrológico médio (a média histórica seria 1). Num ano seco, como 2022, o índice foi de 0.631. Como tal, a hídrica representou apenas 13% do consumo e foi substituída principalmente por fontes não renováveis e importações. Esta variabilidade impactou negativamente os preços da eletricidade. Há vários tipos de centrais hídricas: de fio d’água (não controláveis), com reservatório e com bombagem. Relativamente às centrais com reservatório, há duas variáveis a considerar: a capacidade de geração e o nível dos reservatórios. Até outubro de 2022, a geração hídrica estava abaixo da faixa dos últimos 6 anos e os níveis de água 52% abaixo da média (Figura 2). No entanto, não foi apenas o clima que restringiu a geração hídrica: os reservatórios já tinham começado o ano fora da faixa histórica, 33% abaixo do mínimo dos últimos seis anos. No segundo semestre de 2021, os preços da eletricidade começaram a subir acentuadamente à medida que os preços do gás disparavam. Ao decidir quanta água libertar, os operadores das hídricas consideram os preços atuais e futuros da eletricidade: o custo de oportunidade. O custo de oportunidade é complexo devido à incerteza de afluências futuras: se os preços foremelevados, há um incentivo para gerar mais eletricidade e obter um maior lucro. Não obstante, com falta de pluviosidade, os reservatórios encontravam-se abaixo do nível normal, reduzindo o potencial para gerar energia ao longo de 2022. Perante a situação, o Governo português ordenou a suspensão da produção de eletricidade em 15 barragens2. Esta intervenção, juntamente com a afortunada precipitação no fim de 2022, permitiram que os reservatórios recuperassem os seus níveis típicos. Embora este ano de 2023 se tenha iniciado com uma situação de pluviosidade favorável, com a hídrica a representar 34% do consumo3, a Comissão Europeia já alertou para a possibilidade de um verão ainda mais seco que o anterior. De acordo com o relatório4, devido a um “inverno excecionalmente seco e quente, a humidade do solo e o fluxo dos rios apresentam anomalias significativas”. A longo prazo, as mudanças climáticas ameaçam reduzir a disponibilidade Figura 1 – Índice de produtibilidade hidroelétrica e abastecimento do consumo anual por tecnologias (hídrica, outras renováveis, não renováveis e importações) de 2015 a 2022. Fonte: REN.

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