41 DOSSIER QUALIDADE DO AR INTERIOR Mas se a contaminação atmosférica justifica legítimas apreensões, devemos recordar que a qualidade do ar interior (QAI) é um dos principais riscos ambientais para a saúde pública. O nível de poluição do ar interior é muitas vezes superior ao do ar exterior, com concentrações que podem atingir valores duas a cinco vezes, eventualmente até cem vezes, mais que as observadas na envolvente dos edifícios. Os níveis de contaminação do ar interior adquirem maior pertinência quando se considera que as pessoas passam cerca de 80% a 90% do seu tempo em ambientes interiores. Cada vez mais, a sociedade passa grande parte do seu dia em ambientes fechados, tornando estes níveis de contaminação de grande importância. Facto agravado, em situação de pandemia mundial, devido ao surto causado pelo SARS-CoV-2. A população permaneceu muito mais tempo dentro dos edifícios devido ao período de isolamento social estipulado, estando, assim, mais exposta a eventuais poluentes do ar interior. A exposição prolongada a estes poluentes pode causar o aparecimento de um conjunto de sintomas, que se podem exacerbar àmedida que a exposição se prolonga. Indivíduos com problemas respiratórios podem ser especialmente suscetíveis a esta exposição. Durante os últimos anos, tem havido um interesse crescente em compreender a interação do ambiente construído e dos ocupantes humanos em termos de saúde e bem-estar. Se os ocupantes forem expostos a pobre QAI, esta pode afetar o desempenho, conforto e produtividade. As condições existentes nos edifícios que as acolhem podem condicionar a prevalência de sintomas e patologias, respiratórias e alérgicas. Importa realçar que a poluição interior contribuirá para a exposição humana global, que se poderá entender como uma combinação entre a exposição atmosférica local e os microambientes a que cada indivíduo está exposto, quer seja na escola, no local de trabalho, em espaços comerciais e, particularmente, na habitação, dado corresponder a um período de exposição que, em cada dia, pode ser muito apreciável. Para além da influência dos poluentes do ambiente exterior, como variadas fontes emissoras no interior dos edifícios, destaca-se o consumo de tabaco, a queima de combustíveis, os materiais usados na construção, no mobiliário, na decoração e na manutenção dos espaços, produtos usados pelos moradores, entre muitos outros. Muitos estudos referem associações fortes entre contaminação por poluentes em edifícios e problemas de saúde, nomeadamente, alérgicos, existindo umgrande número de fatores ambientais no interior das habitações, para alémdos alergénios, como a humidade e a temperatura do ar, os compostos orgânicos voláteis (COV) e as partículas em suspensão que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), têm significativos efeitos prejudiciais para a saúde humana. O PAPEL DO CONFORTO TÉRMICO Existemdiversos estudos que afirmam quemuitas doenças e tambémamorte (exposição a longo prazo), estão relacionadas com a inalação de poluentes do ar interior. A grande maioria dos poluentes do ar contribui para esses efeitos negativos na saúde humana devido à sua natureza particulada, especialmente quando o diâmetro das partículas tende a ser muito pequeno, pois podem alojar-se nos alvéolos pulmonares e rapidamente passar para a corrente sanguínea. Destacam-se dois grupos de fontes de poluição: as atividades antropogénicas internas e o ar ambiente exterior, infiltrado ou usado para ventilação. Fontes internas típicas comuns referem-se às atividades dos ocupantes, como cozinhar (em particular fritar), perfurar, fumar, queimar incenso, aquecimento central, ar condicionado e queima de lenha para lareira. Nos locais de trabalho, as fontes internas dependem das características específicas das atividades relevantes que ocorrem (apenas) durante o horário de trabalho e dependem da utilização de vários equipamentos mecânicos e elétricos que causam emissões, e/ou o número de ocupantes e seu movimento causando ressuspensão das partículas. A qualidade do ar exterior também pode afetar o ambiente interno do local de trabalho por meio da ventilação. Temos de referir que o conforto térmico desempenha um papel significativo na produtividade dos ocupantes de qualquer ambiente interno, e elevados graus de desconforto térmico podem resultar em perda de produtividade. É importante dar a devida atenção às necessidades individuais, nomeadamente nos espaços onde estão a trabalhar várias pessoas em simultâneo, como nos espaços “open space”. Melhorar a QAI ajudará a proteger a saúde humana, reduzir o absentismo ao trabalho causada por doenças, e evitar perdas económicas causadas por tratamentos médicos e hospitalares. Vários estudos indicam que os poluentes do ar em edifícios mais comuns são, as partículas, o formaldeído (CH2O), COV, dióxido de carbono (CO2), monóxido de carbono (CO), bactérias e fungos transportados pelo ar. Os níveis de concentração de aldeídos, entre os quais o formaldeído, são, na maioria das vezes, superiores em ambientes interiores (duas a cinco, ocasionalmente, cem vezes) quando comparados comambientes exteriores, um facto com origemnas transformações introduzidas na construção dos edifícios, como intuito de promoverem o seu isolamento e estanquicidade e, consequentemente, minimizar os consumos energéticos. Esta situação terá, inclusivamente, contribuído para que a Environmental Protection Agency, dos
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