BI330 - O Instalador

90 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Fala-se hoje no conceito de NZEB- Net Zero Energy Building3, onde a ideia é a de juntar ao edifício uma produção activa própria de energia (sobretudo a solar fotovoltaica, mas também a térmica) como forma de produzir em termos anuais, em média, tanto quanto o edifício consome (como, por exemplo, determinado em termos de energia final, no REH). Mas a forma actual do REH, com esta enfase numa abordagem relativa com a energia contabilizada em termos de energia primária, não é directamente, ou facilmente, relevante para a obtenção de um NZEB, em cada caso. Note-se até que ter um NZEB pode ser conseguido com base numa certificação energética melhor ou pior! Isto é, se se projecta um NZEB, poderiam até transgredir-se alguns limites parciais hoje impostos pelo REH, já que, no final, o balanço será nulo. A proposta feita em 2.2 acima (ver a primeira parte do artigo “O sector dos edifícios e a certificação energética: a possibilidade e a necessidade de mudança”, publicado na edição de julho), vai no sentido de facilitar uma abordagem que proceda logo ao calculo da Energia Final em cada edifício com as melhores tecnologias de hoje e de reportar o mesmo para fins de certificação, valorizando a análise do balanço final nulo (ou quase nulo, ou até um pouco positivo- NZEB+, etc.) que se pode lograr hoje e que passará a fazer parte da classificação exigida no futuro próximo, em termos europeus. Este comentário sobre os NZEB, com o recurso à energia solar no próprio edifício, torna os comentários feitos sobre a energia primária ainda mais prementes. Na realidade temos produção quântica de energia final para um consumo final. O transito para primária (e toda a termodinâmica associada) não faz qualquer sentido. O caminho na direcção dos NZEB com o fotovoltaico, potencia de forma clara, para lá do autoconsumo, a abordagem das Comunidades Energéticas, cujo desenvolvimento (em Portugal e na Europa) é talvez um dos passos mais importantes que pode ser dado em termos de política energética para o futuro. E algo susceptível de ser valorizado no próprio regulamento. 2.4.2-Os novos materiais e as emissões A evolução tecnológica que ocorreu, entretanto, aporta à questão da construção e dos edifícios uma relevância enorme para a questão das alterações climáticas, permitindo que este sector, para lá das emissões que causa, possa ser uma parte importante da solução, possibilitando o sequestro e o armazenamento do CO2 emitido, qualquer que seja a sua origem. Esta é uma referência directa à questão da neutralidade carbónica. Explicando um pouco: Há emissões de CO2 associadas ao sector, na construção e no funcionamento dos edifícios6 -Global Status Report, 2018, EIA. A nível mundial, 40% da totalidade das emissões de CO2 estão associadas ao sector, repartidas entre ~29% para o funcionamento e 11% para a construção. A construção comum baseada em cimento tem uma forte pegada positiva (o sector da produção de cimento é responsável por entre 7 e 8% das emissões totais de CO2 a nível mundial) 7 [Wikipedia- Environmental impact of concrete] Contudo, a evolução tecnológica, permite actualmente considerar a utilização de matérias primas como a madeira (com a qual hoje se podem fazer de forma integral, edifícios até com mais de 20 andares) e a madeira é um material de pegada carbónica negativa, não só porque é um sequestrador de CO2 que fica armazenado no edifício, mas também porque se presta a técnicas de pré-fabricação na construção, com notáveis reduções de tempo, impactes ambientais e de energia para o seu funcionamento. Em Portugal estão a ser dados passos importantes nesta direcção, nomeadamente através do fabrico de CLT - Cross Laminated Timber, Glulam - lamelados colados e componentes do tipo Woodframe, com base em floresta nacional (ver, por exemplo, 9. A incorporação de materiais orgânicos não se reduz às novas componentes em madeira (mass timber). Destacamos, por exemplo, outros como a cortiça a nível dos isolamentos, igualmente assinalável pela possibilidade de ter uma origem nacional e ainda a possibilidade de associar aos edifícios um “coberto vegetal”, com fins térmicos, mas também estéticos e até produtivos. Fala-se hoje em edifícios “carbono neutros”, o que quer dizer que têm de incorporar quantidades substanciais de madeira (por exemplo) para poderem atingir a pegada zero. Não confundir com edifícios “zero emissões”, o que basicamente significa que a energia que consomem é de origem solar (NZEB) e/ou tem origem totalmente em fontes não fósseis. Esta evolução, contudo, não é bem potenciada pelo Regulamento REH, como se explica no ponto seguinte. 2.4.3 - A Inercia térmica: um defeito do regulamento? O Regulamento REH considera três níveis de inercia térmica nos edifícios, em função dos quais define o seu comportamento energético. Quando o Regulamento foi concebido há mais de 25 anos, a preocupação com a inercia térmica fazia todo o sentido, sobretudo tendo em conta o comportamento dos edifícios no Verão e a possibilidade de os manter relativamente frescos, mesmo sem a intervenção de qualquer equipamento para forçar o seu arrefecimento activo. Correcto!

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