BI330 - O Instalador

94 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA tem qualquer relevância. Mas este discurso de energia primária persiste, por hábito e também porque os produtores de combustíveis fósseis não querem perder a sua hegemonia e, aliás, com frequência, vêm insinuar-nos que o seu peso é tão grande (85%!) que pretendida transição energética é pouco mais que uma fantasia. Na realidade, há a relevância de as emissões de CO2 estarem directamente ligadas à sua queima e, portanto, se se quer reduzir aquelas, tem de se reduzir a Energia Primária: carvão, petróleo, gás. E há uma contabilidade a fazer. Mas, em termos da Energia Final e Útil, não! Basta compreender que o que interessa é a produção de Energia Final, mesmo antes da última transformação em energia útil e que esta produção pode vir directamente de fontes Renováveis. Há anos que a União Europeia se preocupa com as emissões associadas aos combustíveis fósseis, nomeadamente na sua utilização na produção de electricidade (energia final, desprezando as perdas em rede, a partir de centrais térmicas) e daí todos os regulamentos conterem constantes definidas para contabilizar a eventual redução de combustíveis/emissões associadas à energia final que uma melhor construção dos edifícios, por exemplo, era capaz de estar a proporcionar. O nosso regulamento converte tudo em Energia Primária para ter isto em conta. Ora acontece que a energia eléctrica, forma de energia que mais depressa vai potenciar a transição para as energias renováveis, é cada vez mais produzida com estas últimas (em Portugal >72%) pelo que 3 SCE- Estatísticas do Sistema de Certificação Energética dos Edifícios 6 Global Status Report, 2018, IEA 7 Wikipedia- Environmental impact of concrete 8 Programa ELPRE (ADENE) 9 www.kozowood.com (Esposende) esta conversão para ter em conta a Energia Primária, faz cada vez menos sentido! Acresce que a electricidade (Final) hoje satisfaz cerca de 23% das necessidades de Energia Final totais, mas, o objectivo em 2050, é atingir uma percentagem da ordem de ~50%, através do aumento da contribuição desta Energia Final, no sector dos transportes e no da produção de calor (e frio) nos sectores da indústria e nos edifícios. Isto é, quanto maior for a fracção desta electricidade que tiver uma origem renovável, mais impacte se terá sobre a redução da Energia Primária fóssil. A2. A conversão da Energia Primária em Energia Final: os limites impostos pela Termodinâmica Em termos físicos, os combustíveis fósseis têm de ser extraídos, transportados, transformados e finalmente, o seu conteúdo energético transformado em Energia Final. Os rendimentos de conversão nos processos de transformação (impostos pela termodinâmica) são muito baixos. Basta ver o que se passa num motor de combustão de um automóvel, que tem um rendimento aproximadamente de 20%! Quando um veículo eléctrico, que tem um rendimento do seu motor de 95% e recorre a electricidade renovável, substitui um veículo a combustão, dá-se uma machadada de um factor superior a 5 na energia primária para o mesmo consumo. Conclusão semelhante pode-se obter quando se pensa na produção de electricidade numa central térmica a carvão ou a fuel, com rendimentos entre 30 e 40%. Ao substituir essa central térmica por uma renovável, a machada é pelo menos da ordem de um factor 2,5. Foi, aliás, o que aconteceu com o encerramento das centrais a carvão do Pego e Sines, reduzindo, em muito, a nossa dependência fóssil primária. O rendimento para produção de electricidade, final e renovável pode ser mais baixo (~20% no caso da energia solar fotovoltaica) mas isso não é relevante já que o recurso é infinito. O que importa é o custo com que isso se faz e hoje o fotovoltaico já é a forma mais barata de produzir electricidade, até na cobertura da casa de cada um. Até há pouco tempo, a energia fóssil (primária) era mais barata e isso também justifica a sua enorme hegemonia e a relutância com que teimamos em não reduzir a sua importância nos nossos regulamentos. Mas hoje já não é assim, sendo tendencialmente cada vez mais caras, mesmo sem incluir os custos manifestamente elevados, os das externalidades, associados ao impacte climático que geram. Assim, a contabilidade da hegemonia da energia primária num futuro cada vez mais renovável, vai parecer cada vez menos assustadora, até acabar por se tornar numa preocupação irrelevante. Tem é que ir desaparecendo também, nomeadamente dos Regulamentos da Certificação Energética. n Hoje o fotovoltaico já é a forma mais barata de produzir electricidade C M Y CM MY CY CMY K

RkJQdWJsaXNoZXIy Njg1MjYx