BI333 - O Instalador

81 ELETRICIDADE máximo histórico de produção renovável (cerca de 31 TWh), resultante do aumento da potência instalada solar fotovoltaica, mas também com um máximo de importações (13,5 TWh). Considerando a redução na produção a partir de gás natural, constata-se que, em várias horas do ano, foi mais sustentável para o sistema importar eletricidade de Espanha para suprir o consumo português em vez de recorrer às centrais a gás natural. Esta realidade resulta da lógica do funcionamento do mercado pela ordem de mérito das tecnologias de geração. Dá-se o exemplo do mês de outubro do presente ano, enquanto informação mais atual, para demonstrar que as importações (cor rosa no gráfico) ocorrem nos momentos em que o preço de mercado se encontra mais baixo (linha vermelha no gráfico), por vezes próximo de 0 €/ MWh, ocorrendo também em períodos de bombagem, a qual opera tipicamente em horas de preços mais atrativos, ou seja, que normalmente coincidem com horas de baixo consumo e/ou elevada geração renovável não despachável. Atualmente, ainda existem algumas centrais a carvão em funcionamento em Espanha, tendo outras sido já descomissionadas. Ainda assim, a ambição foi revista e aponta-se para um descomissionamento de todas as centrais a carvão até 2025. Apesar disso, o peso destas centrais não é de todo significativo, tendo correspondido apenas a 1,5% da produção de eletricidade em 2023 e 1,1% em 20246. O desenvolvimento da tecnologia solar fotovoltaica em Espanha tem sido um dos alicerces desta transição energética, representando quase 20% da produção de eletricidade aos dias de hoje, que, juntamente com as restantes energias renováveis representaram 59% da geração, enquanto a energia nuclear contou com 21% e os ciclos combinados a gás natural com 10%7, o que corresponde a um decréscimo de cerca de 5% e 40%, respetivamente, face ao período homólogo em 2023. Importa ainda referir que a produção hídrica espanhola registada em 2024 tem sido substancialmente superior à verificada em 2023 (cerca de 70%8), sendo mais um fator favorável ao recurso a importações. Adicionalmente, o aumento do fluxo de importações, i.e., da utilização das interligações, tem levado a mais momentos de congestionamento, originando a separação entre os mercados português e espanhol. A percentagem de separação de mercados tem vindo a aumentar, tendo atingido cerca de 7% em 2024, enquanto 2023 registou 5,3% e 2022 3%9 Assim, é possível constatar que a interligação entre Portugal e Espanha traz vários benefícios para ambos os sistemas elétricos e que são necessárias mais infraestruturas de interligação para aumentar a capacidade de importação e exportação. Neste sentido, está a decorrer um projeto que contempla o desenvolvimento um eixo entre Beariz – Fontefría – Ponte de Lima, que irá possibilitar uma redução dos custos variáveis de geração de 4 M€/ano a 29 M€/ano no horizonte 2030. É importante que os benefícios desta cooperação peninsular, concretizada pelo MIBEL, sejam evidentes e que seja claro que não é benéfico, nem sustentável, abdicar de importações e priorizar produção nacional a partir de combustíveis fósseis. No setor da eletricidade, o caminho para a transição energética dá-se com a aposta em renováveis, flexibilidade de rede e uma visão comunitária para atingir as metas nacionais e europeias. n REFERENCIAS 1 Diretiva 96/92/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 19 de dezembro de 1996 que estabelece regras comuns para o mercado interno da eletricidade. 3 https://gasurvey.gemius.com/recruiting/index.php?sid=47427&g=6329&o=3376198&id=qq_FBExEK6Y8QnS1Wr1XCf27&fpc=rBN8AvFCC1h0233VVkFqN5gcG1agYJjlxrEcUOtQHMP.P7&fpd=jornaldenegocios.pt&v=0&c=2&xc=66E60A3F&debugtimes=1730724179819,1730724182252,1730724180865,1730724184214 4 https://energy.instrat.pl/en/prices/eu-ets/ 5 ERSE, Commodities 6 A referência a 2024 diz respeito ao período entre janeiro e outubro do referido ano. 7 Red eléctrica, https://www.ree.es/en/datos/generation/generation-structure 8 Red eléctrica, boletín mensual, Septiembre 2024. 9 ESOE, análise APREN. Figura 4 – Diagrama de carga de outubro de 2024. (Fonte: data hub REN, análise APREN). mais sustentável para o sistema importar eletricidade de Espanha para suprir o consumo português em vez de recorrer às centrais a gás natural. Figura 4 – Diagrama de carga de outubro de 2024. (Fonte: data hub REN, análise APREN) Esta realidade resulta da lógica do funcionamento do mercado pela ordem de mérito das tecnologias de geração. Dá-se o exemplo do mês de outubro do presente ano, enquanto informação mais atual, para demonstrar que as importações (cor rosa no gráfico) ocorrem nos momentos em que o preço de mercado se encontra mais baixo (linha vermelha no gráfico), por vezes próximo de 0 €/MWh, ocorrendo também em períodos de bombagem, a qual opera tipicamente em horas de preços mais atrativos, ou seja, que normalmente coincidem com horas de baixo consumo e/ou elevada geração renovável não despachável. Atualmente, ainda existem algumas centrais a carvão em funcionamento em Espanha, tendo outras sido já descomissionadas. Ainda assim, a ambição foi revista e aponta-se para um descomissionamento de todas as centrais a carvão até 2025. Apesar disso, o peso destas centrais não é de todo significativo, tendo correspondido apenas a 1,5% da produção de eletricidade em 2023 e 1,1% em 20246. O desenvolvimento da tecnologia solar fotovoltaica em Espanha tem sido um dos alicerces desta transição energética, representando quase 20% da produção de eletricidade aos dias de hoje, que, juntamente com as restantes energias renováveis representaram 59% da geração, enquanto a energia nuclear contou com 21% e os ciclos combinados a gás natural com 10%7, o que corresponde a um decréscimo de cerca de 5% e 40%, respetivamente, face ao período homólogo em 2023. Importa ainda referir que a produção hídrica espanhola registada em 2024 tem sido substancialmente superior à verificada em 2023 (cerca de 70%8), sendo mais um fator favorável ao recurso a importações. Adicionalmente, o aumento do fluxo de importações, i.e., da utilização das interligações, tem levado a mais momentos de congestionamento, originando a separação entre os mercados português e espanhol. A percentagem de separação de mercados tem vindo a aumentar, tendo atingido cerca de 7% em 2024, enquanto 2023 registou 5,3% e 2022 3%9 Assim, é possível constatar que a interligação entre Portugal e Espanha traz vários benefícios para ambos os sistemas elétricos e que são necessárias mais infraestruturas de interligação para aumentar a capacidade de importação e exportação. 6 A referência a 2024 diz respeito ao período entre janeiro e outubro do referido ano. 7 Red eléctrica, https://www.ree.es/en/datos/generation/generation-structure 8 Red eléctrica, boletín mensual, Septiembre 2024. 9 IESOE, análise APREN.

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