BI295 - O Instalador

78 INVESTIGAÇÃO estudou os efeitos dos AHs nos ecos- sistemas fluviais, em particular, na população piscícola, em 17 casos de estudo distribuídos por oito países. Através destes estudos, pretendeu- -se identificar e colmatar lacunas ao nível do conhecimento, perceber como poderiam ser melhoradas as ferramentas existentes até então, e desenvolvidas novas soluções mitigadoras. Um desses casos de estudo ficou a cargo equipa de investigadores do Técnico, e os resultados do mesmo chegaram a ser publicados na revista PLoS ONE. Este estudo, realizado numcanal expe- rimental no Laboratório de Hidráulica do Instituto Superior Técnico (LHIST), teve como objetivo simular as rápidas alterações de caudal que ocorrem nos rios a jusante das centrais hidroelétricas. De acordo com a investigadora Isabel Boavida, “é importante compreender os efeitos que têm as alterações dos caudais, nos diferentes locais, sobre o comportamento dos peixes”. “Para isso, foram realizados ensaios para verificar se os peixes utilizavamas estruturas ins- taladas no canal para se refugiaremdos caudais elevados, tal como o fariamnum rio utilizando as pedras como abrigo”, acrescenta a investigadora. Através de uma sonda desenvolvida por investigadores da Tallinn University of Technology, cuja forma se assemelha à de um peixe e que mimetiza a linha sensorial lateral dos peixes, foi pos- sível medir os gradientes da pressão induzidos pelo escoamento, de forma similar ao que deverá ser percecionado pelos peixes. Caraterizando as intera- ções água-corpo do peixe, é possível simular o padrão de escoamento a que os peixes estariam sujeitos em condições naturais. Maria João Costa, também investiga- dora do LHIST, explica no comunicado enviado às redações pelo consórcio do FIThydro, que “relacionar respostas ao stress e comportamentos de mobili- dade com alterações específicas nos caudais, permitiu-nos estabelecer uma relação causa-efeito entre essas alte- rações e alterações comportamentais”. Em colaboração com a Hidroerg – Projetos Energéticos Lda, que faz parte do consórcio do projeto, os resulta- dos laboratoriais foram transpostos para outro caso de estudo, desta feita na central hidroelétrica de Bragado. Através de um sistema de telemetria instalado a jusante desta central, os investigadores testaram o impacto das variações de caudal sobre o habitat e o movimento dos peixes. Através deste estudo, foi possível verificar “que o uso de habitats pelas espécies piscícolas ibéricas, designa- damente, o escalo e a boga do norte, diferia entre a época emque ocorriam os turbinamentos – a primavera – e a época em que a central hidroelétrica estava parada – o verão”, tal como evi- dencia a investigadora Isabel Boavida. “As espécies usavam menos a área imediatamente a jusante da restituição da central hidroelétrica nos períodos em que ocorriam os turbinamentos, sendo encontradas nesses períodos na zona mais a jusante do troço em estudo”, adiciona. A equipa do CERIS aliar-se-ia nova- mente à Hidroerg para analisar a perceção do público europeu rela- tivamente aos AHs em albufeira significativa, tendo os inquéritos sido realizados no concelho de Vila Real e emoutros locais em França, Alemanha e Suécia. O estudo permitiu avaliar a perceção dos inquiridos relativamente aos AHs do tipo referido. De acordo com o que é referido por Pedro Eira Leitão, gerente da Hidroerg, emcomunicado, “o estudo mostrou que as opiniões sobre a hidroeletricidade a fio-de-água não são homogéneas, variando segundo o tipo de região (há mais semelhanças entre a Suécia e a Alemanha do que entre aqueles dois países e a França e Portugal) e segundo a idade dos entrevistados”. O professor António Pinheiro sublinha “que a maior parte dos inquiridos em Portugal tinha opinião sobre vários aspetos relacionados com a produção hidroelétrica em aproveitamentos a fio-de-água. Não obstante, algumas das respostas dadas espelharam lacu- nas de conhecimento sobre a matéria, nomeadamente sobre a forma como a produção hidroelétrica se processa e é regulada em Portugal”, salienta, em seguida. Entre as principais conclusões retira- das pela equipa de investigadores do CERIS está a ideia de que “a perceção pública portuguesa sobre a produ- ção hidroelétrica é polarizada entre as pessoas com opinião genericamente positiva, associada ao contributo da hidroeletricidade para a mitigação das alterações climáticas e para o desenvolvimento local/regional, inde- pendentemente da propriedade dos aproveitamentos, e as pessoas com posição particularmente crítica, que relevam os impactos dos aproveita- mentos hidroelétricos, em particular os de grande dimensão, nos ecossiste- mas naturais e na atividade agrícola e florestal”, tal como destaca professor António Pinheiro. FERRAMENTAS DE APOIO À DECISÃO COM CUNHO DO TÉCNICO A segunda etapa do projeto explorou possíveis medidas para o reequipa- mento de centrais hidroelétricas, tais como turbinas mais adequadas à passagem dos peixes, bem como de instrumentos de apoio às deci- sões a serem tomadas por parte de operadores e responsáveis pelo pla- neamento de AHs. Para determinar os impactos da explo- ração em regime de hydropeaking

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