Desde 2013, contam-se mais de 100 animais reintroduzidos de acordo com um projeto da ACHLI - Associação de Conservação do Habitat do Lobo-Ibérico com acompanhamento científico e monitorização permanente da Universidade de Aveiro (UA).
Apesar de considerar cedo para medir o sucesso do projeto de reintrodução do corço nas serras da Arada, Freita e Montemuro, Carlos Fonseca, professor do Departamento de Biologia da UA e coordenador científico deste estudo, aponta alguns sinais promissores: há avistamentos regulares de corços e das suas crias pelas pessoas que habitam estas serras e há predação do corço pelo lobo-ibérico, comprovado em laboratório pela análise genética dos excrementos de lobo.
A escolha deste cervídeo para o projeto prende-se com o facto de se saber que o corço é uma presa preferencial deste predador de topo caraterístico da fauna nativa portuguesa, salienta o investigador. A fragilidade populacional das alcateias que habitam estas serras e o estatuto de “em perigo” do lobo-ibérico assim o exigiam, afirma.
«Uma das maiores ameaças à população lupina da região a Sul do Douro é a escassez e reduzida diversidade de presas selvagens. A reintrodução e/ou aumento das populações de ungulados selvagens para além de aumentar o número de presas disponíveis reduz os impactos nos efetivos pecuários e consequentemente o conflito com o Homem».
Cumpridas diretrizes da União Internacional para Conservação da Natureza
A Associação foi constituída por um grupo de empresas relacionadas com a implementação de projetos eólicos (Eólica da Cabreira, S.A., Eólica da Arada - Empreendimentos Eólicos da Serra da Arada, S.A. e Eólica de Montemuro, S.A.) e conta atualmente com 16 associados. Desenvolve vários projetos de conservação do habitat do lobo, em algumas regiões da área de distribuição desta espécie. A reintrodução de corço é uma das componentes do trabalho desenvolvido por esta associação em prol da conservação do lobo-ibérico.
O plano cumpre as diretrizes estabelecidas pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) neste tipo de situações, diz Rita Torres, investigadora do Departamento de Biologia da UA e coordenadora técnico-científica deste projeto.
Inicialmente foi feita uma identificação de áreas mais favoráveis à reintrodução, ou seja, áreas que reuniam os requisitos ecológicos da espécie, facilitando o seu estabelecimento inicial e expansão natural.
Foi feita também uma caraterização genética das populações de corço a nível nacional e ibérico, que forneceu informações importantes na tomada de decisão relativamente às populações que se iriam reintroduzir, evitando contactos que não ocorressem de forma natural (poluição genética) e de forma a preservar linhagens antigas.
Realizaram-se sessões de sensibilização pública, com proprietários, gestores de caça, caçadores, população e entidades locais, pretendendo-se assim sensibilizar as populações para a reintrodução do corço e para a conservação do lobo ibérico.
Todos os anos, desde 2013, e com base em protocolos específicos e detalhados são libertados corços nestas serras.
A monitorização destes animais é fundamental para se aferir o sucesso da reintrodução, e é baseada na análise dos dados recolhidos pelos colares GPS que equipam os animais reintroduzidos, pelas evidências encontradas no terreno, pela armadilhagem fotográfica e pelos avistamentos da equipa técnica e dos habitantes locais.
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