Biomassatep: Espanha e Portugal unem esforços para impulsionar o setor da Biomassa

Embora esta renovável ainda não tenha conhecido a redução de custos por que já passou a eólica e o fotovoltaico, a sua versatilidade, capacidade de gestão e possibilidade de armazenamento, complementam tecnicamente uma das renováveis que gera mais empregos por megawatt instalado. Para impulsionar o seu desenvolvimento, Espanha e Portugal uniram esforços no projeto “Biomasstep”, um projeto cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), através do programa de Cooperação Transfronteiriço Espanha-Portugal (POCTEP).

Nove entidades trabalham juntas para desenvolver modelos que permitam, de forma célere, a identificação dos parâmetros físico-químicos da Biomassa.

Os objetivos estabelecidos no Plano Nacional Integrado de Energia e Clima (PNIEC) de Espanha representam 42% da participação das renováveis no sistema energético espanhol em 2030.

Tendo em conta que a eletricidade representa apenas 25% da energia consumida em Espanha, é essencial fazer um esforço significativo na integração renovável para utilização térmica e de transporte. A Biomassa não pode apenas contribuir para satisfazer as nossas necessidades térmicas, também deverá permitir aumentar a percentagem de renováveis na eletricidade, visto que as energias renováveis representam agora 38,5% (dados de 2018) e os novos projetos serão em energia eólica e fotovoltaica, tecnologias que exigem um suporte elétrico renovável que forneça uma capacidade de gestão e segurança à rede.

A Biomassa é, também, uma tecnologia, que gera um grande número de postos de trabalho, razão pela qual, juntamente com o uso de recursos endógenos, é possível ter uma outra forma de criação de emprego e riqueza, reduzindo assim a dependência energética no que respeita importações de hidrocarbonetos.

O que vale o recurso Biomassa em Espanha? O país está em terceiro lugar, a nível europeu, em recursos absolutos, e é sétimo em recursos per capita, o principal produtor de azeite e o maior produtor de suínos da Europa. Apesar disto, Espanha está na cauda da Europa na utilização de recursos de Biomassa, apenas à frente da Irlanda. Embora Portugal esteja perto da média da União Europeia (UE), também tem um grande potencial de exploração e, juntamente com Espanha, partilha em algumas regiões, os mesmos tipos de recursos, pelo que esta investigação conjunta faz todo o sentido.

Uma das principais vantagens da Biomassa é igualmente uma desvantagem e que, felizmente, podemos resolver. As fontes de Biomassa são muito diversas e isso faz com que as usemos em ambientes e regiões muito diferentes, mas, ao mesmo tempo, introduz uma certeza sobre a qualidade e características específicas do recurso. Se quando utilizamos a energia solar no fotovoltaico, temos características específicas da radiação solar que recebemos, no caso da Biomassa temos uma grande quantidade de parâmetros que podem variar.

Potência calorífica, humidade, quantidade de cinza, carbono fixo, nitrogénio, hidrogénio, enxofre e cloro, todos estes parâmetros físico-químicos variam, dependendo do recurso que utilizamos. Ser capaz de identificar rapidamente estas características é crucial: 10% de humidade numa tonelada de Biomassa significa pagar 100 litros de água como se fosse Biomassa.

Para identificar rapidamente as características da Biomassa, o projeto “Biomasstep” desenvolveu uma metodologia baseada na tecnologia NIRS, que permite analisar os produtos de Biomassa e simultaneamente obter uma série de parâmetros que definem o recurso. A tecnologia NIRS (Near Infrared Reflectance Spectroscopy) permite obter dados sobre a Biomassa quase automaticamente a partir da análise NIRS das amostras, uma vez que existe uma correlação entre a radiação infravermelha do material e suas características físicas, químicas e sensoriais.

Para ter uma resposta imediata, devemos incorporar outras vantagens da tecnologia NIRS para identificar a Biomassa, com escassa ou nenhuma preparação da amostra, visto que se trata de uma tecnologia não destrutiva, é fácil de usar esta tecnologia uma vez calibrada e preparados os equipamentos, sendo o custo por análise baixo.

No outro extremo da balança, devemos considerar que é necessário um investimento inicial elevado para obter o instrumento de medição e desenvolver os modelos, visto que não é uma tecnologia bem conhecida. Através do programa “Biomasstep”, pouco pode ser feito para reduzir o custo de aquisição inicial dos instrumentos, ainda que, no projeto, tenham sido desenvolvidos modelos iniciais de previsão a partir da análise de amostras, para ajudar as empresas do setor.

O equipamento de medição NIRS precisa ser calibrado a partir de dados de referência obtidos no laboratório para fornecer resultados, uma tarefa que também foi desenvolvida durante o projeto “Biomasstep”.

Assim, modelos preditivos foram desenvolvidos a partir de um grupo de mais de 300 amostras de biomassa de oliveira (restos de azeitona em lagares de azeite, indústria transformadora do azeite de mesa, restos da vindima e bagaço...), e subprodutos de frutos secos e cereais, analisados em laboratórios na Andaluzia, Alentejo e Algarve.

Estas amostras compõem um Banco de Amostras de Biomassa Avaliadas, localizado no Departamento de Química Física e Termodinâmica Aplicada, Área de Máquinas e Motores Térmicos, Edifício Leonardo Da Vinci, da UCO.

Toda a informação gerada será disponibilizada ao setor da Biomassa para a transferência de tecnologia, para o uso e consulta das empresas do setor, o que significa uma poupança de tempo e custo analítico inicial para aqueles que decidirem investir na tecnologia NIRS para dar resposta à necessidade de controlo do mercado. Da mesma forma, o trabalho realizado permitirá a criação de uma rede de equipamentos NIRS para caracterização da Biomassa e servirá de base para gerar novos modelos preditivos.

O desenvolvimento destas tecnologias deve ser partilhado entre os diferentes atores envolvidos para o desenvolvimento adequado da Biomassa nas regiões em questão.

O objetivo final do projeto “Biomasstep” pretende que os centros de investigação, universidades, administrações públicas e empresas se unam em torno de uma rede transfronteiriça para incentivar a utilização da Biomassa de qualidade.

A metodologia desenvolvida com a tecnologia NIRS, assim como o seu âmbito de ação inicial (região da Andaluzia, em Espanha, e Alentejo e Algarve, em Portugal), são a origem do que, esperamos, seja um passo importante para o impulso definitivo desta energia renovável.