XI Encontro Nacional de Gestão de Resíduos: uma nova Era?
Carmen Lima | Centro de Informação de Resíduos da Quercus19/01/2022
Uma análise ao passado, uma definição do que queremos para o futuro.
Carmen Lima durante a sua intervenção no Encontro da APEMETA.
Todas as participações e apresentações levaram a um entendimento de que este setor possui ainda um longo e árduo caminho pela frente, que arrancou com um apelo de compromisso para com as gerações futuras, através da intervenção da Dra. Vera Eiró (ERSAR), que frisou exatamente este facto: “difícil, mas determinante para o futuro das gerações vindouras. O difícil não é impossível”.
A APEMETA organizou um evento no final de 2021 que serviu de balanço dos 20 últimos anos na gestão de resíduos urbanos, mas também como uma avaliação do que queremos para o futuro. A palavra que marcou este evento foi definitivamente ‘Desafio’.
Para este compromisso será fundamental a colaboração e compromisso de todos, para atingir os objetivos que são ambiciosos e comuns.
Neste evento, o diálogo entre os diversos atores permitiu confirmar algumas constatações:
- A produção de resíduos continua a aumentar;
- As metas não são cumpridas;
- Fraca fiscalidade;
- Pouca monitorização;
- Roubos dos resíduos valorizáveis;
- Dados disponíveis são questionáveis;
- Existência de mercados paralelos;
- Elevada quantidade depositada em aterro;
- Capacidade dos aterros afetada;
- Pouca aposta na prevenção e reutilização;
- Recursos escassos para licenciar e acompanhar.
Levamos, no entanto, algumas preocupações connosco, que poderão ser úteis para redefinir um caminho. As diversas intervenções focaram as fragilidades que já se identificavam no setor.
Preocupações:
- Business as visual vs cumprimento metas diferença substancial;
- Metas para reduzir deposição em aterro para 10%;
- Implementar recolha de novos fluxos e fileiras – fundamental – ex: biorresíduos;
- A resposta 'aterro' – será o futuro?;
- Recolha seletiva – com capacidade deficitária;
- Recolha e envolvimento alguns atores (distribuição);

Contudo, saímos deste evento igualmente com o sentimento de esperança! Esperança no futuro, na colaboração e empenho de todos e todas, esperança de que, neste caminho, será maior o impacte de parar ou voltar atrás, do que seguir em frente. Para tal, foram identificadas realidades e expetativas dos próximos anos com:
- Publicação do Novo PERSU;
- Mais e maior financiamento;
- Integração – mobilidade sustentável, transição energética e mais resiliência no combate às alterações climáticas;
- Colaboração e partilha entre entidades e organismos;
- Novas tecnologias e novas soluções de recolha;
- Comunicação com uma mensagem mais clara e simples;
- Envolvimento da população e promoção da alteração de comportamentos;
- Mais qualidade do material reciclado;
- Resíduos = recursos, aproveitar os nutrientes para enriquecer os solos;
- Certificações dos processos de gestão e recolha;
- Complementaridade entre a recolha seletiva e o SDR;
- Revisão da legislação para potenciar a melhoria da gestão de residuos;
- Avaliar e estudar a taxonomia associada ao setor dos resíduos, potenciando a economia circular.
E num ápice, os anos passaram e assumimo-nos perante o futuro que nos reserva desafios.
Após 20 anos, muito foi feito, mas ainda muito é preciso fazer e muitas perguntas por responder:
- Que tecnologia, que soluções, que ciclos para melhorar o setor e atingir as metas?
- Como ajustar e tornar o setor transversal – interligando com a energia, aspetos ambientais, sustentabilidade, critérios definidos e emissões?
- Como mobilizar a população, como comunicar e passar a mensagem – aumentar a triagem?
- Como controlar o setor da gestão de resíduos?
- Como informar os consumidores sobre as obrigações legais em matéria de amianto?
- Como cumprir metas com sustentabilidade nos seus três pilares?
- Como resolver a fração resto (incineração ou aterro)?
- Como combater os mercados paralelos?
- Como integrar os diversos sistemas e unidades?
- Como conduzir os atores na mesma direção – cidadania, circularidade e qualidade?
- Como ajustar o quadro legislativo à realidade e às necessidades?
- Como melhorar a informação?
E as respostas estão no futuro e em cada uma das organizações. Como disse o Eng.º Tiago Faria, “é pior não tomar uma decisão do que tomar uma decisão errada”. Seguimos juntos nesta missão de deixar um Planeta melhor para todos.