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Reabilitação: quando o estudo prévio faz toda a diferença

Alexandra Costa26/05/2022
O The Editory Riverside Santa Apolónia Hotel é o exemplo perfeito de que o tempo que se passa a inventariar toda a informação referente ao edifício a reabilitar, assim como na criação de cenários, poupa tempo, dinheiro...e algumas chatices. A obra não derrapou, quer em termos de prazo ou orçamento, coexiste com três grandes desafios acústicos – estação de metro, ferroviária e rodoviária – e cumpre o prometido: um edifício reabilitado, em que se manteve a traça e história do mesmo, garantindo o cumprimento das necessidades atuais de um hotel de cinco estrelas.
The Editory Riverside Santa Apolónia Hotel
The Editory Riverside Santa Apolónia Hotel.
Silêncio. Absoluto. Estar dentro do The Editory Riverside Santa Apolónia Hotel, seja numa das várias áreas públicas ou num dos quartos, é estar num ambiente silencioso. Nem nos apercebemos que estamos por cima de uma estação de metro, ao lado de uma estação ferroviária e paredes meias com uma das avenidas mais movimentadas de Lisboa. E isso só foi possível através de todo o trabalho prévio à efetiva reabilitação do edifício.

Reabilitar um edifício, e nomeadamente um edifício histórico, traz desafios que uma construção de raiz não acarreta. É o caso do The Editory Riverside Santa Apolónia Hotel, instalado na Estação Ferroviária de Santa Apolónia, a primeira estação de comboios portuguesa. O que era antes um edifício administrativo, onde estavam escritórios da Infraestruturas de Portugal está hoje um hotel de cinco estrelas.

E se atualmente entrar no hotel é recuar no tempo, e assistir quase que aos tempos áureos da ferrovia – há peças históricas espalhadas pelos espaços e que encaixam na perfeição na decoração – é igualmente verdade que parece que entramos um mundo à parte. Pelo silêncio verificado. Que só foi alcançado porque houve todo um trabalho de preparação prévio à reabilitação em si. Como explica Pedro Guimarães, diretor de project management na Sonae FS, na fase inicial dos trabalhos de projeto foram realizados ensaios da caraterização do ambiente sonoro, no interior e exterior da Estação de Santa Apolónia, que permitiram estudar e definir as soluções de condicionamento acústico mais ajustadas do ponto de vista funcional, técnico, económico e estético a integrar no projeto. Foi, inclusive, criado um quarto modelo, onde foram realizados novos ensaios, “com o objetivo de validar a eficiência das soluções prescritas em fase de projeto, que se verificaram adequadas”. Os resultados acabaram por ser melhores do que o esperado.

A história é uma das âncoras da reabilitação do hotel
A história é uma das âncoras da reabilitação do hotel.

O hotel está numa localização que coloca grandes desafios. Não só o metro em si, que obrigou, inclusive, a testes contínuos, por forma a confirmar que não havia interferências entre a habitual atividade da estação de metro e a obra em si. A estação ferroviária não era tao problemática. O facto de ser uma estação terminal atenuava o “problema”. Havia que contar com as trepidações que, felizmente, vão em parte diminuir, quando os comboios abandonarem por completo o diesel e adotarem a mobilidade elétrica. Mas, talvez o mais problemático, em termos de acústica, seja mesmo a questão dos autocarros na avenida, com uma paragem quase à porta do hotel.

Todo esse trabalho de preparação, assim como o facto de ser a mesma empresa a tratar do projeto do início ao fim – a Saraiva + Associados - desde a arquitetura e planeamento, à reabilitação, e o design de interiores, garantiu consistência e segurança a toda a obra. E permitiu a flexibilidade necessária aquando de algumas surpresas – como as vigas metálicas que não constavam do histórico do edifício.

Esse foi, aliás, um trabalho que foi feito, não só como preparação do projeto de reabilitação, mas também para saber o que existia, o que seria possível aproveitar e definir o valor histórico e patrimonial do que fosse encontrado. O edifício original foi inaugurado em 1865 mas, ao longo do tempo, sofreu alterações, nem todas elas registadas. Aliás, essa foi uma dificuldade com que os responsáveis do projeto se depararam. Como afirma Pedro Guimarães, a principal preocupação inicial foi a obtenção de bases fidedignas que refletissem, com o maior rigor possível, as soluções construtivas do edifício, complementadas com uma campanha de sondagens extensa para confirmação in situ.

A principal preocupação inicial foi a obtenção de bases fidedignas que refletissem, com o maior rigor possível, as soluções construtivas do edifício...

A principal preocupação inicial foi a obtenção de bases fidedignas que refletissem, com o maior rigor possível, as soluções construtivas do edifício.

No caso dos edifícios antigos a reabilitação coloca desafios, principalmente ao nível dos cumprimentos dos requisitos de segurança, conforto e condicionamento acústico. Requisitos que, aquando da construção do edifício em causa, não existiam. “Os principais desafios da integração de um novo programa de ocupação do espaço, resultam da elevada exigência técnica e legal atualmente exigida aos projetos, que impacta diretamente nas soluções construtivas, nomeadamente quanto aos níveis de conforto dos espaços, segurança e de condicionamento acústico exigido versus a integração, recuperação e conservação dos elementos patrimoniais existentes no edifício”, refere Pedro Guimarães, que exemplifica com as portas duplas existentes nos longos corredores do edifício, “cuja recuperação e integração no projeto permitiu manter a leitura destes espaços de dimensões e escala única”. No entanto, “para preservar estes espaços e elementos arquitetónicos, foi necessário integrar antecâmaras de acesso aos quartos para garantir os requisitos de segurança contra incêndios e o condicionamento acústico e conforto necessários a um quarto de hotel de cinco estrelas”.

O que ficou... e o que saiu

Na inventariação do edifício houve coisas que, na reabilitação, foram eliminadas. Seja porque, refere o diretor de project management na Sonae FS, eram elementos dissonantes ou sem valor patrimonial. “No exterior, foram demolidas das intervenções dissonantes, estores exteriores, caixas de estore, aparelhos de climatização e grelhas de ventilação obsoletas existentes no edifício, e no interior foram removidos os revestimentos e compartimentação dissonante”, exemplifica. No interior procurou-se manter a distribuição funcional, organizando-se a distribuição funcional, organizou-se no espaço. Ou seja, a maioria dos gabinetes foram “transformados” em quartos. O que permitiu que, algumas das pessoas que trabalharam naquele espaço durantes anos ao (re)visitar o espaço tenham conseguido identificar “o seu local de trabalho”. Mais. As áreas de serviço e de apoio à operação ficaram localizadas no piso 0+ sendo um piso de sobreloja sem caraterísticas patrimoniais especiais, e a área social do hotel ficou localizada no piso 1 no corpo central do edifício, sobre o átrio de entrada da estação e os quartos aproveitam a compartimentação existente ao longo da ala nascente nos pisos 1 e 2 do edifício. O facto de o edifício ter sido utilizado praticamente até “passar” para as mãos da Sonae evitou a degradação do mesmo e facilitou a sua reabilitação. Feitas as contas, a Sonae tinha apenas de “mexer” numa pequena percentagem do edifício e mais no sentido de, por um lado, garantir a autonomia dos acessos e saídas de emergência do hotel que são independentes da estação ferroviária, mas também, e principalmente, o reforço do último piso, onde estão todas as máquinas que garantem a manutenção e operação do hotel.

O condicionamento acústico é um dos desafios da reabilitação
O condicionamento acústico é um dos desafios da reabilitação.

A par disso, e ao nível da compartimentação, houve duas áreas que foram completamente reconvertidas. No primeiro piso, na zona central, a “antiga compartimentação para áreas de gabinetes foi completamente alterada para integração da área de bar e restauração, e no topo da ala nascente o openspace com divisórias previamente existente foi transformado em área de quartos”.

E o que ficou? Alguns materiais, responde Pedro Guimarães, como azulejos em paredes interiores, apainelados de madeira, revestimentos em mármore de pavimentos e paredes, a rosácea na fachada interior, etc. Ao nível da estrutura e fachadas do edifício houve quase total aproveitamento, com reabilitação, como a laje em betão em pisos, toda a estrutura de madeira de pisos e paredes, a cobertura com treliças e telha, elementos em paredes exteriores, etc. As tais vigas de metal, por exemplo, que foram descobertas aquando da obra, foram mantidas (com exceção da zona onde foi instalada a escada de emergência) e são hoje um elemento decorativo do teto do restaurante. O mesmo com as portas que antes davam acesso aos vários gabinetes. Não podendo ser usadas como portas de acesso aos quartos, dado que não cumpriam os requisitos de segurança ou acústicos, optou-se por usá-las como acesso a uma antecâmara de acesso aos quartos. Ou a rosácea que marca o centro da estação e que é, hoje, “o” elemento de destaque de um dos quartos.

Durante todo o processo de reabilitação procurou-se manter a história do edifício não a desvirtuando. Aliás, essa mesma história serviu de ponto de partida para o conceito de decoração: “a Estação como ponto de partida e chegada, como cenário de acontecimentos que marcaram e refletem a vida dos portugueses e da cidade, nos vários períodos da sua história, que se reflete nas fotografias realizadas no âmbito deste projeto por Jordi Llorella e que se encontram patentes nas zonas sociais e nos quartos do hotel com imagens a preto e branco de velhas estações e apeadeiros portugueses”, refere Pedro Guimarães.

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Certificação BREEAM

“O The Editory Riverside Santa Apolónia Hotel foi o primeiro edifício a obter a pré-certificação BREEAM International Refurbishment and Fit-Out em Design Stage em toda a Península Ibérica”, refere, com orgulho, Pedro Guimarães.

Para a obtenção dessa certificação, foram tidos em conta aspetos como a gestão dos processos para a adoção de práticas de gestão sustentável, desde as etapas de desenvolvimento do projeto, realização da empreitada, comissionamento, até às atividades de pós-venda para garantir que os objetivos de sustentabilidade fossem definidos desde o projeto e seguidos durante a operação do edifício, a par do potencial do edificado existente, nomeadamente a valorização dos pontos positivos do edifício, como a localização privilegiada, e a possibilidade de materiais e estruturas existentes serem reutilizadas; mas também a questão da energia, água e conforto. Aqui entra a especificação de equipamentos de consumo de energia e água eficientes, bem como o cuidado com o isolamento e eficiência da envolvente em função da elevada exigência dos padrões de conforto. E, por fim, mas não menos importante, o impacto da obra na envolvente. Sendo que, afirma Pedro Guimarães, o projeto procurou reduzir os possíveis impactos do edifício no exterior, como poluição luminosa e sonora, por exemplo.

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O certo é que, em todas as fases do projeto houve o cuidado de incorporar ações de sustentabilidade. Desde logo no privilegiar empresas e materiais locais, por forma a reduzir a sua pegada de carbono. Mas esse não foi o único ponto a ter em conta. Como explica o diretor de project management na Sonae FS, o projeto teve como objetivo proporcionar ao ocupante maior conforto no ambiente interno, como conforto visual, térmico e acústico, bem como maior qualidade do ar interior. Critérios que contribuem para a saúde e bem-estar dos ocupantes (hóspedes e trabalhadores). A par disso, "houve o cuidado de incorporar soluções que permitissem a redução do uso de energia e emissões de carbono, nomeadamente através do uso de equipamentos e sistemas energeticamente eficientes“.

"Além disso, o edifício apresentará um Sistema de Gestão Predial (BMS) para controlar, gerir e otimizar as diversas instalações do edifício na sua operação”, afirma Pedro Guimarães, que acrescenta que, sobre os materiais adotados, foi elaborado um estudo de avaliação do ciclo de vida do projeto com o objetivo de medir o impacto ambiental do ciclo de vida dos elementos de construção. Para tal foi criado um Plano de Compras Sustentáveis “para orientar as equipas de projeto, bem como as de construção a escolherem materiais de acordo com o plano que incentivou o uso de produtos com certificação de fornecimento responsável”.

A escolha recaiu em materiais capazes de proteger as partes vulneráveis do edifício contra danos, bem como as partes expostas da degradação do material, minimizando assim a frequência de reparações e substituição de materiais. “Em relação aos resíduos foi desenvolvido um plano de gestão de recursos com o objetivo de promover o uso eficiente dos recursos e reduzir o desperdício. Procurou-se destinar para reciclagem a maior quantidade de resíduos de construção e demolição”.

Infelizmente houve um ponto onde não foi possível avançar. Por questões urbanísticas não foi possível instalar painéis fotovoltaicos, pelo que houve que recorrer a outras estratégias por forma a aumentar a eficiência energética do edifício e da operação do hotel.
Antes e depois da reabilitação
Antes e depois da reabilitação.

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