Mobilidade elétrica: o presente e o futuro

O ano de 2022 está a ser um ano de grande desenvolvimento da Mobilidade Elétrica em Portugal, acompanhando o forte crescimento que se regista a nível mundial. As vendas de veículos elétricos batem sucessivos recordes.

São três os principais fatores que contribuem para este crescimento:

• Aumento da oferta de novos modelos e de novas marcas de veículos elétricos (Maxus, Aiways, Polestar e MG), com mais autonomia (autonomia média dos modelos 100% elétricos comercializados em Portugal é de 400 km) eliminando assim qualquer ansiedade aos seus utilizadores, com uma oferta mais diversificada abrangendo já todos os segmentos (ligeiros de passageiros, ligeiros de mercadorias, pesados de passageiros e pesados de mercadorias, assim como ciclomotores, motociclos e quadriciclos);
• Aumento da Rede Nacional de Carregamento de Veículos Elétricos, contando com mais de 7.000 pontos de carregamento, na soma da Rede Pública de Carregamento e das Redes Privadas (Tesla, Continente Plug & Charge, Porsche), sendo que destes 1.400 são postos rápidos e ultrarrápidos, dos quais mais de 1.000 estão ligados e em funcionamento, estando os restantes na fase de instalação. A estes acrescem os milhares de pontos de carregamento instalados em casas particulares, condomínios e empresas;
• Os diversos incentivos à aquisição de um veículo 100% elétrico que podem ir dos 4.000€ de um ligeiro de passageiros até aos 6.000€ para um comercial ligeiro e também para a aquisição e instalação de carregadores domésticos que podem atingir os 1.800€ por equipamento. Existem também incentivos à aquisição de bicicletas e bicicletas de carga, motociclos, ciclomotores e quadriciclos elétricos. As empresas beneficiam ainda de Benefícios Fiscais como sejam a dedução do IVA e a isenção de Tributação Autónoma em sede de IRC.

As vendas de veículos elétricos em Portugal, considerando os veículos 100% elétricos (BEV – Battery Electric Vehicle) e os veículos híbridos plug-in (PHEV – Plug-in Hybrid Electric Vehicle) atingiram um novo recorde de vendas em setembro, tendo sido vendidos 3.831 veículos elétricos, dos quais 2.307 veículos 100% elétricos, números que revelam a enorme procura atualmente existente em Portugal. Será seguramente batido o recorde anual de vendas registado o ano passado - 29.724 unidades -, pois faltando ainda um trimestre para acabar o ano, o número total de vendas de veículos elétricos novos cifra-se em 25.134.

A pandemia da Covid-19 apenas afetou as vendas de veículos elétricos (VE) durante os dois períodos de confinamento, ao contrário dos veículos movidos a motores de combustão interna (VCI - gasolina e gasóleo) que viram e continuam a ver, as suas vendas fortemente afetadas. Esta queda persistente das vendas dos VCI, justifica-se pela interrupção das cadeias logísticas de distribuição e da perturbação da indústria de construção automóvel devido à falta de componentes, a principal das quais foi a carência de microprocessadores e outras componentes eletrónicas. Apesar destas perturbações também atingirem os veículos elétricos o seu impacto tem sido mais reduzido.

Por outro lado, a recuperação das vendas dos VE foi impulsionada pela constatação prática do que seriam cidades e grandes áreas metropolitanas sem os veículos altamente poluentes emissores de gases de efeito de estufa (GEE), cidades muito mais silenciosas, com reduzidos índices de poluição atmosférica, devido à paragem das atividades económicas, cidades onde as cores se tornaram mais vivas, o canto dos pássaros passou a ser mais audível, passámos a utilizar mais os jardins e as zonas verdes. Tivemos, todos, a perceção do caminho a percorrer no que diz respeito à mobilidade dos seres humanos: eletrificação dos transportes rodoviários e descarbonização do modelo económico.

Com a paragem forçada das atividades económicas observámos como os animais foram recuperando território antes ocupado pelos Humanos, a natureza foi-se regenerando, e, foram estabelecidos novos modelos laborais (teletrabalho) com a respetiva menor utilização do carro nas deslocações diárias.

Com um crescimento das vendas de novos veículos elétricos (BEV + PHEV) a atingir em setembro os 35.8%, em período de contração das vendas globais de automóveis, a sua quota de mercado atingiu valores impensáveis há muito pouco tempo: 29.4% em setembro!

Quando analisamos os veículos 100% elétricos o ritmo do crescimento das suas vendas é ainda mais impressionante: 42.7% em setembro e 55.5% no ano (janeiro a setembro).

No que se refere à quota de mercado também foram atingidos números nunca vistos em Portugal: 17.2% no mês de setembro e 10.7% no ano em curso.

No que se refere à Rede Nacional de Carregamento e contabilizando apenas os dados da Rede Pública de Carregamento sob gestão da MOBI.E, a Entidade Gestora da Rede de Mobilidade Elétrica em Portugal, os únicos que são do conhecimento público, no período de janeiro até ao início do mês de outubro de 2022, tinham sido efetuados 1.779.690 carregamentos, consumidos 25.820 MWh de eletricidade, evitando assim a emissão de 20.759 toneladas de CO2, em pouco mais de nove meses. Números muito promissores face aos objetivos da eletrificação dos transportes rodoviários e da descarbonização da economia a que o país se comprometeu com o Roteiro para a Neutralidade Carbónica (RNC2050), o Acordo de Paris (COP 21) e o Pacto Ecológico Europeu (European Green Deal).

Devemos ter bem presente a urgente necessidade de mitigar os efeitos catastróficos das Alterações Climáticas que hoje estão bem documentados pelos cientistas e que todos nós vamos assistindo ano após ano um pouco por todo o mundo, com secas extremas, falta de água nas barragens e rios, ondas de calor extremo, incêndios gigantescos desde a Califórnia à Austrália, passando pela Suécia e a Sibéria, afetando muito particularmente a bacia do mediterrâneo e o nosso país em particular.

Falta muito caminho, temos pela frente muitos escolhos, no entanto temos realizado enormes progressos. Quais são os principais constrangimentos que teremos de enfrentar e contornar?

• A escassez de componentes eletrónicas e não só essas (o vidro também para os para brisas), para a indústria automóvel mundial;
• A instabilidade das cadeias logísticas de transporte marítimo e terrestre;
• O aumento dos preços da energia, principalmente do gás natural que afeta diretamente o preço da eletricidade;
• As consequências nefastas para todo o mundo da guerra na Ucrânia, à qual urge pôr fim.

Creio que neste momento o que mais necessitamos é de informação de qualidade, simples e acessível a todos os atuais e futuros proprietários e utilizadores de veículos elétricos.

Para tal a UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos, em conjunto com a EDP, lançou o Manual da Mobilidade Elétrica com toda a informação necessária para o uso, o carregamento e a utilização mais correta e eficiente de um veículo elétrico.

Este Manual pode ser descarregado, na sua versão pdf no portal da UVE (www.uve.pt) e será também distribuído pela UVE uma versão em papel reciclado nos eventos onde iremos estar presentes.

O futuro terá de ser risonho, só depende de nós, de cada um e de todos em conjunto. Em suma:

• Aumento do parque de veículos elétricos em circulação = menos emissões poluentes;
• Eletrificação de todos os transportes públicos;
• Aumento do número de utilizadores de meios de mobilidade suave nas cidades: bicicletas, bicicletas de carga, trotinetes, quadriciclos;
• Reutilização das baterias usadas nos veículos elétricos como baterias para armazenagem de eletricidade produzida por sistemas de painéis fotovoltaicos;
• Novas tecnologias, em fase de desenvolvimento, para a produção de baterias com maior capacidade e menos peso, face ao crescimento acentuado da procura de veículos elétricos.

Pela redução do consumo de combustíveis fósseis.

Pela eletrificação dos transportes rodoviários.

Por um mundo melhor, não existe planeta B, os nossos filhos agradecerão.