Henrique Pombeiro1,2, Muriel Iten1,3
1Future Energy Leaders Portugal/Associação Portuguesa de Energia
2Watt-IS
3ISQ
21/11/2022De acordo com a estrutura tarifária em vigor em setembro, por exemplo, é possível estimar o custo de carregamento de uma viatura de passageiros num posto na via pública, com 18 kWh (consumo aproximado para percorrer 100 km) pouco abaixo de 7,5 €1. Considerando um veículo semelhante a combustão interna a gasóleo, com consumos médios de 6 l/100km e com um preço de 1,7 €/l, o custo de 100 km rondará os 10 €. De acordo com este exemplo simplista, o custo de carregamento de um carro elétrico na via pública, era cerca de 25% menos que um carro a gasóleo. Esta poupança será maior no caso de o carregamento ser realizado no domicílio, pois, admitindo um preço cerca de 0,20 €/kWh, o carregamento de 18 kWh rondaria os 3,6 €. Este valor representa já uma poupança à volta de 65% quando comparado com um carro a gasóleo e seria superior considerando o carregamento em período de vazio numa tarifa bi-horária cujo preço fosse 0,12 €/kWh em vazio: cerca de 2,15 € conseguindo uma poupança que ronda os 78% face ao gasóleo.
Pelo exemplo descrito, apesar de ambos os tipos de combustível (fóssil e elétrico) serem vulneráveis à volatilidade dos mercados, verifica-se que o custo de abastecimento/carregamento é mais vantajoso nos veículos elétricos. Note-se, no entanto, que o preço médio do veículo elétrico é superior ao preço médio de um veículo a combustão interna, para uma gama semelhante. A título de exemplo, consideremos um veículo ligeiro a gasóleo que pode custar cerca de 24.000 € e um homólogo elétrico que corresponde a 33.500 €2. Considerando uma poupança média de 6,4 €/100 km no caso de carregamento no domicílio (0,20 €/kWh), teríamos um retorno do investimento aos 150.000 km. De acordo com , o que poderá, em termos práticos, corresponder a vários anos até se atingir essa quilometragem. Note-se que outros custos de manutenção estão excluídos desta análise. A viabilidade económica dependerá, assim, de fatores, nomeadamente o custo de eletricidade, que poderá, por exemplo, ser reduzido no caso da instalação de painéis fotovoltaicos em casa, reduzindo de forma significativa o custo de carregamento e reduzindo assim o período de retorno do investimento.
Portugal corresponde a um dos países da União Europeia onde mais se circula de carro (ligeiros), estimando-se que em média um cidadão português conduza anualmente cerca de 9000 km3. Considerando-se que no país existem mais de 5 milhões de automóveis e assumindo-se um cenário em que haja a penetração de 1.000.000 veículos elétricos em Portugal, não será disparatado que haja necessidade de 5% deste número necessitar de carregamento em hora de ponta, a 22 kW. Isto implica um aumento da necessidade da potência instalada, nomeadamente para 1,1 GW de potência instantânea. Ora, a potência tomada média em Portugal em período de ponta é abaixo dos 10 GW4, assim este aumento é 10% da potência usada atualmente.
Um veículo elétrico de 50 kWh tem uma autonomia abaixo de 300 km, autonomia que está de facto ajustada às necessidades do condutor comum. O seu carregamento deverá ser assegurado no domicílio (caso o utilizador tenha essa possibilidade) ou num carregamento público. Nesta última vertente, ao dia de hoje, a rede pública de carregamento de veículos elétricos supera os 2.800 postos e este número continua a aumentar. No entanto, com o crescimento exponencial do número de veículos elétricos (promovido por benefícios fiscais, entre outros), o acesso ao carregamento tenderá a tornar-se cada vez menos cómodo e demorado, exigindo-se por vezes, o carregamento durante a noite. Esta situação é menos atrativa, quando comparada com um abastecimento convencional com a duração média de 5 a 10 minutos num posto de abastecimento de combustíveis, no caso de um veículo a combustão interna.
Adicionalmente, durante deslocações maiores, poderá haver a necessidade de efetuar o carregamento em postos de abastecimento em autoestrada, possivelmente requerendo um tempo de espera considerável (> 1 hora) no caso de existir menos elétricos do que o número de carros a necessitar de carregamento.
No entanto, a bibliografia5 suporta que os veículos elétricos, apesar de apresentarem um maior impacte durante o seu fabrico, são responsáveis por menos emissões durante todo o seu ciclo de vida, ao se admitir uma matriz de produção elétrica semelhante ao caso português (em que a maioria da produção elétrica é de origem renovável). Espera-se, ainda, que os impactes ambientais dos veículos elétricos diminuam em mais de 70% até 2050.
Tal como acontece recorrentemente, a penetração de nova tecnologia no mercado não acontece a par e passo com o desenvolvimento da infraestrutura correspondente. A infraestrutura que atualmente existe não está ainda preparada para uma substituição plena da anterior tecnologia pela nova, esperando um uso com todas as conveniências atuais. No entanto, existe um forte dinamismo de mercado que tem impulsionado as vendas de veículos elétricos, também impulsionado por políticas nacionais, e esse aumento está necessariamente a incentivar o desenvolvimento da infraestrutura adequada.
Em suma, a mobilidade elétrica é, de facto, um pilar na descarbonização da cadeia de valor de energia. No entanto, existem desafios ao dia de hoje que não podem ser ignorados, mas que estão a ser mitigados, promovendo, assim, a transição para a mobilidade elétrica.
Face a tudo o exposto, verifica-se que o argumento financeiro, ao dia de hoje, pode não justificar a aquisição de um veículo elétrico em substituição de um veículo a gasóleo. No entanto, se aliado à necessidade de compra de um novo veículo e aliando a produção renovável já instalada ou a instalar no domicílio, poderá tornar mais rapidamente esta opção preferencial não apenas ao nível económico, mas também ambiental.
1 https://www.deco.proteste.pt/auto/automoveis/noticias/carro-eletrico-compensa-carregar-casa
2 Preços obtidos para um Renault Clio a gasóleo e um Renault Zoe e-tech elétrico com autonomia de 52 kWh
5 European Environment Agency, 2022, Relatório EEA n.º 02/2022, Transport and environment report 2021 Decarbonising road transport — the role of vehicles, fuels and transport demand, ISBN: 978-92-9480-473-0
oinstalador.com
O Instalador - Informação profissional do setor das instalações em Portugal