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Informação profissional do setor das instalações em Portugal

A importância do hidrogénio verde na transição energética em ilhas

Andreia Carreiro, Bruno Henrique Santos e Francisco Carlos

Future Energy Leaders Portugal/Associação Portuguesa da Energia

26/01/2023
As metas do Acordo de Paris de 2015 encerram um conjunto de desafios que a sociedade civil tem de assumir, por forma a assegurar a mitigação das alterações climáticas, até meados do século XXI, pela redução das emissões antropogénicas, resultantes do nosso estilo de vida e do desenvolvimento tecnológico verificado desde finais do século XIX.
Ilha de São Miguel, Açores. Foto: BigBlue Adventures

Ilha de São Miguel, Açores. Foto: BigBlue Adventures.

A necessidade de descarbonização do setor da energia, um dos principais responsáveis pelas emissões com gases de efeito de estufa (GEE), tem sido amplamente abordada, nomeadamente, pela introdução incremental de tecnologias de gestão e de produção de origem renovável, com recurso ao sol, ao vento e à água, assegurando a substituição das fontes energéticas de origem fóssil, como o carvão, o fuelóleo, o gasóleo, o gás natural ou outro tipo de hidrocarbonetos.
Note-se que o setor da energia não se limita à energia elétrica, sendo necessária uma análise holística do panorama do uso da energia em Portugal, onde a eletricidade representa apenas cerca de 25% da energia final, e em que o paradigma de uso de vetores energéticos na indústria, mobilidade e serviços assenta ainda no recurso maioritário a fontes de origem não renovável e, naturalmente, com necessidade de descarbonização.
A eletrificação integral, apesar de desejada, ainda não é uma solução competitiva e custo-eficaz para o ambiente produtivo de algumas indústrias de consumo intensivo, bem como para o transporte rodoviário pesado, aéreo ou marítimo, áreas fundamentais que carecem de descarbonização para o cumprimento integral das metas de neutralidade carbónica.

Em áreas insulares, os desafios da descarbonização são mais complexos, face à ultraperiferia, disponibilidade de recursos endógenos, ausência de interligação física e reduzidas economias de escala, exacerbando a necessidade de explorar uma diversidade de fontes energéticas de origem renovável e de assegurar requisitos de segurança de abastecimento e resiliência.

No caso português, a predominância nas ilhas de regimes eólicos favoráveis, associados à exposição solar, permitem a capitalização de fontes endógenas que, aliadas a outras tecnologias, quer de estabilização da rede, como o recurso a sistemas de armazenamento, quer através da exploração de outras fontes de origem renovável, como a geotermia ou a hídrica, impulsionam as trajetórias de neutralidade carbónica.

Neste contexto, o hidrogénio de origem renovável (vulgarmente conhecido como hidrogénio verde) produzido através de eletricidade obtida a partir de fontes renováveis, usufruindo dos excedentes de produção que já hoje ocorrem, essencialmente, em períodos noturnos, com elevada produção eólica e baixo consumo, ou com recurso a produção dedicada para o efeito, poderá constituir-se como um vetor energético estratégico para a transição energética nas ilhas, potenciando o armazenamento químico sazonal de energia sob a forma de hidrogénio, ou pela a sua utilização na descarbonização da indústria ou de outros grandes consumidores onde a eletrificação não será, ainda, competitiva.

De forma complementar, e seguindo exemplo de outras ilhas, como a Islândia, os Açores, que usufruem de potencial geotérmico, poderão aproveitar o CO2 de origem geotérmica, libertado no processo de geração de vapor, em combinação com o hidrogénio verde, para viabilizar a produção de combustíveis sintéticos, como metanol ou Sustainable Aviation Fuels (SAF), cuja procura pelos principais operadores marítimos e aéreos internacionais se prevê crescente. Desta forma, acreditamos ser possível capitalizar a posição geográfica estratégica das Regiões Autónomas para potenciar a descarbonização do setor dos transportes terrestres, marítimos e aéreos, impulsionando localmente o desenvolvimento de uma economia de baixo carbono, aliada à criação de riqueza e geração de emprego.

Assim, existe a possibilidade de ponderar:

  • a produção de metanol pela captura de CO2 para utilização no setor marítimo inter-ilhas, aliado à criação de infraestruturas de abastecimento que permitam o abastecimento de navios transatlânticos ou mesmo a exportação/importação;
  • a conversão ou substituição de parte dos grupos térmicos existentes para a produção de eletricidade, para que estes possam recorrer, também, ao metanol, em vez de usar fuelóleo ou gasóleo, como acontece atualmente, conversão esta já testada e comprovada em navios de grande dimensão;
  • a utilização de hidrogénio verde para produção de SAF’s poderia contribuir, de forma consistente, para a descarbonização do setor da aviação, suprindo parcialmente o consumo de hidrocarbonetos nos voos inter-ilhas, bem como assegurando uma porção de combustíveis renováveis e endógenos ao consumo dos voos pendulares para os destinos nacionais e internacionais.

O desenvolvimento de políticas públicas energéticas, direcionadas a projetos integrados, promovendo a utilização de recursos endógenos e dinamizando cadeias de valor na economia das ilhas, revela-se um processo fundamental e estratégico no planeamento da política energética das Regiões Autónomas, em linha com a política energética que tem vindo a ser desenvolvida pelo Governo da República Portuguesa

A proliferação de tecnologias que recorrem a fontes endógenas de origem renovável, potenciando estratégias complementares de descarbonização da economia, contribuirá certamente, após a respetiva análise de viabilidade económica e de escala, para a aceleração das metas de descarbonização, reduzindo as emissões de GEE, pela utilização racional e sinérgica dos recursos que a idiossincrasia geográfica nos aporta.

Neste contexto, o desenvolvimento de políticas públicas energéticas, direcionadas a projetos integrados, promovendo a utilização de recursos endógenos e dinamizando cadeias de valor na economia das ilhas, revela-se um processo fundamental e estratégico no planeamento da política energética das Regiões Autónomas, em linha com a política energética que tem vindo a ser desenvolvida pelo Governo da República Portuguesa.

Portugal tem procurado ser pioneiro a capitalizar os recursos endógenos que possui, desenvolvendo nos últimos anos um conjunto de políticas públicas direcionadas à penetração de fontes renováveis de energia, com vista à neutralidade carbónica da economia. Na fase de operacionalização, estes investimentos permitem associar objetivos de natureza tecnológica e ambiental do setor energético às pretensões de desenvolvimento económico dos arquipélagos, que abrangem a fixação de pessoas e a criação de competências, respeitando a natureza pela implementação de políticas sustentáveis, e no limite, potenciando a exportação de conhecimento.

Em última análise, a descarbonização das Regiões Autónomas poderá possibilitar o desenvolvimento de projetos inovadores e posicionar os arquipélagos como espaços privilegiados para o teste de soluções pioneiras e disruptivas no setor energético, que associem o desenvolvimento económico à transição energética sustentável, segura e justa, pilares do ‘trilema energético’ há muito propugnado pelo World Energy Council.

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