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Informação profissional do setor das instalações em Portugal

Não subestimar o risco do perigo oculto [9]: renováveis

Manuel Martinho | Engenheiro de Segurança no Trabalho26/01/2023
Continuação do número anterior.
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A. Locais de implantação e trabalho

Num parque eólico os trabalhos de construção consistem no edifício de comando, e na subestação e à montagem dos aerogeradores.

Para construção de um parque eólico é necessário montar estaleiro para dar apoio à execução da obra, onde se centralizarão as operações de coordenação, organização e preparação dos trabalhos, contentores, para escritórios, armazenamento de materiais, ferramentas e equipamentos, zonas de parqueamento e uma área específica para o depósito temporário de resíduos produzidos no decorrer da obra.

Na dimensão organizativa da atividade produtiva na construção, muito para além da aparência do edificado, é envolvida e condicionada pela escolha do local de estaleiro, técnicas de execução, espaço-tempo, espaço físico, ambiente envolvente, recursos, e segurança do processo.

I. Estaleiro, Plataformas de montagem e Acessos

Para escolha das caraterísticas de um estaleiro, local de trabalho seguro e saudável, na dimensão prevista na Portaria nº 987/93, de 6 de outubro (Regulamentação das normas técnicas respeitantes às prescrições mínimas de segurança e de saúde para os locais de trabalho), e Decreto-Lei nº 347/93, de 1 de outubro (Prescrições mínimas de segurança e de saúde para os locais de trabalho), são critérios específicos não negligenciáveis neste setor:

a) A proximidade e centralidade com e entre os locais de execução dos trabalhos (atender a que as torres eólicas se dispersam por uma significativa área) e a consequente flexibilidade dos espaços de trabalho que permita a alteração em face do faseamento da obra;

b) A compatibilidade com o mapa de condicionantes locais: RECAPE, se existir, – (Relatório de Conformidade Ambiental do Projeto de Execução), REN (Reserva Ecológica Nacional), RAN (Reserva Agrícola Nacional) etc. (as autarquias locais são entidades a consultar);

c) A facilidade de acessibilidade a energia elétrica, água, saneamento, telefone e internet;

d) Os caminhos de acesso e a topografia (ex. relevo) para minimizar manobras, movimentação de terras necessária, zonas inundáveis, terrenos incoerentes e inconsistentes, vegetação, abate, desmonte de ramagens e/ou árvores, limpeza de matos e pastagens, perda de zonas semeadas, remoção cepos, aplicação de herbicidas, e outras determinantes na qualidade dos acessos;

e) Distâncias a percorrer pelas pessoas, materiais e máquinas, para e nos locais de trabalho;

f) A otimização do número de operações de carga, descarga e transporte, minimizando o número de montagens e desmontagens implícitas das atividades nas várias fases de execução da obra e limite do raio de ação, das áreas de produção sob a ação dos equipamentos de elevação e translação de cargas;

g) A segregação das áreas de trabalho, sociais, tendo em consideração motivos de conforto e segurança dos trabalhadores e restantes utilizadores do estaleiro;

h) Condicionantes específicas, por exemplo as redes técnicas subterrâneas (de águas, gás, eletricidade, etc.), as linhas elétricas aéreas de média ou alta tensão e um menor número de proprietários com quem interagir, reduz o número de autorizações para a utilização das áreas do terreno necessárias e seus constrangimentos legais e intrínsecos (contratos).

No final deverá estar prevista a recuperação paisagística do local, de acordo com o E.I.A (Estudo de Impacte ambiental). Nas plataformas só deverá ficar uma zona de tout-venant à volta dos aerogeradores.

II. Fundação, valas para cabos, obstáculos e circulação, posicionamento de máquinas e equipamentos.

A fundação é o elemento responsável pela ligação do conjunto da torre do aerogerador, cujas cargas, estáticas e dinâmicas ao terreno, a que o conjunto está submetido, recebe e transmite ao solo.

São calculadas para suportar as ações estáticas, como o peso próprio, e cargas dinâmicas, como vento e a ação dos sismos. Ao invés da maior parte dos projetos estruturais, que atendem sobretudo às ações verticais, nas torres eólicas, as forças horizontais de ventos com diferentes velocidades, quase sempre prevalecem e geram valores elevados de momentos fletores nas bases da torre e na fundação.

A construção das fundações do aerogerador em betão armado, implica um processo construtivo complexo baseado na realização várias atividades, como escavações, cofragem e descofragem, montagem de armaduras, betonagem e aterros.

Nestas atividades os fatores de risco mais frequentes advêm das condições do local, entivações, escoramentos, “lay-out” inadequado para circulação de máquinas, equipamentos e pessoas, desorganização do local de trabalho, uso de equipamento e materiais em mau estado, coatividade, processos de montagem de cofragem e aço desajustados, recurso a trabalho penoso e medidas de prevenção e de proteção inadequadas.

Para limitar estes riscos, para além das preconizadas na avaliação de riscos prévia, sempre necessárias medidas preventivas, a utilização de betão bombado ou de descarga pelos riscos que envolve deve merecer particular atenção:

a) O estabelecimento de um perímetro de segurança ao redor da zona de trabalhos, camião com a bomba e do camião de transporte de betão;

b) A qualidade das plataformas de trabalho, caminhos de circulação pedonal e de viaturas, a velocidade de circulação e o afastamento a linhas de precipício ou de escorregamento de terreno;

c) A qualificação e experiência e destreza dos operadores de equipamentos e do motorista do caminhão-bomba;

d) As capacidades e condições de operacionalidade de equipamentos e máquinas (verificações regulamentares atualizadas, etc.);

e) A execução das manobras, os choques entre peças e os movimentos intempestivos, sobretudo de mangueiras ou partes móveis;

f) A sinalização do risco de queda, as proteções contra quedas e deslizamentos de terras;

g) A coatividade entre executantes, orientação e coordenação dos trabalhos;

h) O uso de equipamentos de proteção coletiva e individual (capacete, calçado de segurança, luvas e colete de alta visibilidade, arneses, linhas de vida etc.);

Fundação de Aerogerador
Fundação de Aerogerador.

B. O Posto de Transformação ou subestação e a ligação à rede

Consistem na construção das instalações onde se procede à transformação da energia elétrica produzida para a rede de distribuição, e nelas se situam:

a) Os transformadores de tensão e os equipamentos de seccionamento ou interrupção e proteção.

b) Quadro geral de baixa tensão donde derivam os a partir os diversos ramais da rede de distribuição;

O risco elétrico de presença de energia e contacto direto ou indireto com peças em tensão ou vizinhança, já foram temáticas objeto de publicação nas edições anteriores de 'Não subestimar o risco do perigo oculto [2 a 7]', cuja leitura se recomenda;

C. Equipamentos e aerogeradores

O volume, a morfologia, o peso e complexidade dos componentes eólicos, a dispersão geográfica de fabricantes e instaladores, obriga a transporte especializado para o local dos elementos que constituem a torre e a nacele, numa logística que pode incluir o tradicional meio rodoviário, o fluvial e o ferroviário.

É neste particular que em matéria de segurança assumem particular acuidade a integração dos princípios gerais de prevenção referidos no regime aplicável em matéria de segurança, higiene e saúde no trabalho.

Desde logo nos domínios das:

a) Opções e escolhas técnicas em projeto, relativas aos processos e métodos construtivos, bem como os materiais e equipamentos;

b) Definições relativas aos processos de execução do projeto, (estabilidade, implantação e os condicionalismos);

c) Planificação e organização dos trabalhos ou as suas fases, bem como a previsão do prazo da sua realização;

d) Os riscos especiais para a segurança e saúde enumerados no artigo 7.º, podendo nestes casos o autor do projeto apresentar soluções complementares das definições consagradas no projeto;

e) As definições relativas à utilização, manutenção e conservação da edificação.

i. Carga e Transporte

Transporte de Pá
Transporte de Pá.

Esta logística, cuja carga se distribuirá por várias cargas (fretes) e destino a diferentes locais remotos, com obstáculos e limitações físicas, e outros limites tráfego, regulamentares ou condicionalismos requer e execução de um procedimento em forma de requerimento a submeter ao IMTT IP, de forma a obter autorização, onde constam as condições em que é permitido o trânsito dos veículos objeto da autorização.

Há restrições ao transporte em rodovias, nomeadamente dimensionais são regulamentadas pela Portaria n.º 472/2007 de 22/6, II Série, Regulamento de Autorizações Especiais de Trânsito, que foi alterado pela Portaria n.º 787/2009 de 28/7.

Para prevenir os riscos específicos associados relativos à organização e transporte é imperioso implementar os procedimentos de verificação relativos a operações de carga, descarga, transporte e acidentes rodoviários.

Neste aspeto, o plano de trânsito a ser feito com base no reconhecimento prévio do percurso, até porque se trata de veículos de grande porte devem avaliar-se os riscos de forma a assegurar que:

a) Todas as máquinas, veículos e operadores afetos ao transporte e movimentação das cargas cumprem os regulamentos e normas vigor (Requisitos de Segurança e Saúde, Estudo de Impacto Ambiental e demais regulamentações aplicáveis);

b) Por se tratarem de peças gigantescas é aconselhável que o transporte, seja à noite desde as fábricas até aos parques, e seja na maior parte dos casos feita por autoestradas, como transporte especial;

c) A disposição e condições das vias de acesso e circulação (sinalização sentido, largura, inclinação, tipo de piso, obstáculos etc.), de forma a facilitar e permitir a manobra dos veículos, (zonas de viragem, limites de velocidade, alturas condicionantes), evitando cruzamentos, capotamentos ou retenções por efeito de intempéries (atascados), mesmo em caminhos agrícolas;

d) Estudar a metodologia de descarga e de posicionamento dos aerogeradores no local e balizamento;

e) As acessibilidades para e rápida intervenção de socorro de emergência, neste particular, para além de quem gere a via e autoridades policiais é importante consultar dos Serviços de Socorro (Bombeiros e Proteção civil);

f) A identificação e sinalização inequívoca da carga transportada, visível à distância que pode incluir a aplicação de plano específico de sinalização.

ii. A descarga em obra

Para estas operações utilizam-se máquinas e equipamentos, camiões gruas, plataformas elevatórias, etc.), pelo que será de ter em consideração, para alem dos limites de capacidade dos equipamentos, a volumetria e peso da carga, as condições do espaço de trabalho, e as caraterísticas das máquinas e equipamentos e distâncias em elevação e rotação na movimentação das peças.

A plataforma de trabalho deverá possuir caraterísticas de resistência mecânica capaz de suportar as cargas em movimento, o atrito de deslocamento e manobra dos equipamentos (camiões, gruas etc.), cuja verificação de estado será comprovada previamente à realização das manobras.

Durante a descarga do material, a zona de influência na elevação e transporte e posicionamento das cargas deverá estar sinalizada e delimitada por forma a evitar a circulação ou presença de pessoas sob de cargas suspensas.

A orientação e comando e sinalização das manobras deve ser coordenado por pessoa competente, que garantirá as instruções claras precisas e concisas.

Movimentar peças da Torre
Movimentar peças da Torre.

iii. A montagem

Quando se trabalha na montagem de um aerogerador, estamos a falar de uma operação complexa e precisa, atento aos meios a mobilizar, às dimensões dos componentes, peso e alturas de trabalho.

Executada a fundação e base de assentamento, a primeira peça a montar serão os módulos que correspondem à parte de comando, controlo e potência da máquina, e que fazem a interligação do aerogerador com a rede elétrica do parque.

A torre de aço, que pode dividir-se em várias secções sendo a primeira a mais larga e pesada, à qual são acopladas sucessivamente as restantes.

Depois de montada a torre procede-se à instalação da nacelle (barquinha) que aloja o sistema de transmissão e o gerador, uma peça com várias toneladas.

A instalação do gerador, onde se gera a acorrente de energia, é uma das peças mais pesadas e volumosas a colocar em altura.

A montagem das pás, com dezenas de metros de cumprimento, no hub é feita no chão. A sua instalação, dado o volume, está muito condicionada pelos ventos no momento (≤ 7 m/h), pelo que só deve ser efetuada em condições atmosféricas adequadas.

Fácil será de deduzir que pela dimensão, peso das peças, alturas e distâncias se deverá utilizar equipamentos de elevação de cargas de grande capacidade e sejam utilizadas per si ou conjunto sincronizado.

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Elevação de Aerogerador
Elevação de Aerogerador.

Para operações complexas e de alto risco, como estas, o planeamento e a organização devem ser extensos e minuciosos.

É neste contexto que para a segurança e sucesso do projeto, são importantes na assemblagem dos elementos e montagem do aerogerador, os recursos a alocar, a organização, o planeamento das operações, mas também a competência e experiencia de quem conduz executa os trabalhos em cada etapa.

Estas pessoas devem ter conhecimentos teóricos e práticos suficientes sobre o trabalho e equipamentos em questão, bem como os requisitos da lei, para executá-los adequadamente.

Um “lifting plan” é um instrumento de organização que ajuda a definir claramente as ações envolvidas em cada etapa da operação e identificar as responsabilidades dos envolvidos.

Consoante o detalhe do plano varia o grau de imprevisibilidades e a proporcionalidade dos riscos.

Orientações específicas a considerar nas operações de içamento:

a) Competência e de pessoas;

b) Adequação, resistência e estabilidade do equipamento de elevação;

c) Posicionamento do equipamento de elevação e visibilidade;

d) Sinalização e balizagem para evitar trabalho sob cargas suspensas;

e) Amarração e equilíbrio das cargas;

f) Estudo do local e condicionalismos;

g) Proteção coletivas e individuais;

h) Condições de vento e atmosféricas;

i) Regras de circulação e parqueamento de equipamentos;

j) Proximidade de outros obstáculos e outros perigos, como linhas aéreas de energia e serviços enterrados;

k) Elevação de pessoas;

l) Verificações.

Continua no próximo número com as operações de manutenção e intervenções posteriores.

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