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Será que a seca terminou?

Carmen Lima*24/03/2023
Apesar dos vários sinais a maioria da população ainda não se apercebeu da importância da água (potável). É preciso colocar a “Água” no centro dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Só assim se garantirá o acesso universal e equitativo à água potável e ao saneamento até 2030.
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No arranque deste ano de 2023 anunciou-se, com grande destaque, o “fim da seca”, através da divulgação do comunicado do IPMA - Instituto Português do Mar e da Atmosfera, no qual era anunciado que esta teria terminado “em praticamente todo o território” de Portugal continental, ficando apenas reservada a algumas regiões como o interior Sul em seca fraca. Este é o maior mote para podermos “arrumar” problemas incómodos, em vez de os resolver.

Desde esta data deixou de falar-se na importância de usar de forma eficiente o bem “água”, na necessidade de gerir adequadamente este recurso escasso e perpetuar a sua reutilização vezes sem conta, antes de o descartar após um uso inadequado. Deixou de haver apelos à população, às autarquias, à indústria e à agricultura de que estamos no momento de viragem da estratégia do uso da água, sob pena de corrermos um grande risco de voltarmos, em breve, a sofrer com a sua escassez.
“A água é o bem maior da humanidade e é uma necessidade vital à vida no Planeta”. Este é o lema que as crianças aprendem logo cedo. Não há qualquer dúvida sobre isso. O que parece existir é uma dificuldade grande de perceber que vivemos no fio da navalha de esta um dia esgotar-se, caso não adotemos medidas constantes para o seu uso adequado e não apenas em situações de SOS.
Não nos apercebemos como usamos a água que sai da torneira, que é potável. Os consumos de água/dia para cada atividade do quotidiano podem ultrapassar os 240 litros:
  • Duche de 15 minutos, com a torneira meia aberta - 180 litros;
  • Lavar as mãos ou os dentes com a torneira aberta - 24 litros;
  • Manter a torneira aberta enquanto faz a barba - 48 litros;
  • Lavar o carro com mangueira - 500 litros de água;
  • Cada descarga de autoclismo - 15 litros;
  • Uma torneira a pingar de 5 em 5 segundos, durante 24 horas - 30 litros/dia.
Com o atual paradigma ambiental global, as mudanças climáticas associadas, a destruição de ecossistemas e o uso acelerado dos recursos naturais, tem sido os diversos sinais de que uma das grandes questões deste século será o acesso a água potável, na maioria dos países do Mundo, especialmente nos países em que os recursos hídricos e económicos são mais limitados. Esta desigualdade tem vindo a agravar-se e estima-se que a escassez de água afeta atualmente quatro em cada dez pessoas.
Não há dúvidas da sua importância para a sobrevivência humana, que vai muito além de nos saciar e hidratar, na medida em que é a base do desenvolvimento alimentar, fazendo parte de praticamente todos os gestos do nosso dia-a-dia. Por outro lado, a nível de desenvolvimento, é um in-put insubstituível em muitas indústrias e processos produtivos, desde a construção civil ou agricultura, usando-a inclusive para minimizar os impactes ambientais de muitos setores, sem nunca nos lembrarmos de como é escasso este recurso.
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Mas será que a seca realmente acabou?

A chuva regressou em 2022 e encheu os reservatórios e as albufeiras. Assumiu-se que a seca deixou de assombrar o território português, na medida em que voltámos a um “padrão normal”. Na prática, estamos atualmente numa “falsa normalidade hídrica”, dado que nada nos garante de que este efeito extremo não regresse brevemente a território nacional e voltaremos a entrar novamente em período de seca, sem termos dedicado tempo e energia a pensar sobre este problema.
Os períodos de seca têm sido mais constantes e a cada ano que nos vimos a braços com este problema soam os sinais de alertas. É um problema concreto que há muito que precisa de uma intervenção mais séria e concreta, não ficando apenas pelo romantismo das campanhas de sensibilização ou de medidas que não são aplicadas.
Foi assim em 2018, com as campanhas de sensibilização do Ministério do Ambiente e outras entidades, repetiu-se o modelo em 2022 e acredito que será igual num futuro muito breve. Campanhas e mais Campanhas com pouco efeito prático naquilo que poderá ser a mudança de estratégia e paradigma da forma como usamos o recurso – Água.
Acredito que estas campanhas sejam louváveis, como todas as campanhas de sensibilização ambiental, mas não bastam, e isso já deveríamos ter aprendido com todos os outros temas ambientais. É importante perceber que não iremos resolver este problema apenas com campanhas de sensibilização.
Olhemos o caso da Cidade do Cabo, na África do Sul, em que a população teme o dia em que as torneiras deixarão de deitar água e tornar-se-á a primeira Cidade do Mundo a ficar sem água potável. Aqui já se percebeu que as campanhas de sensibilização não são suficientes, é preciso regular, limitar e promover o uso eficiente. Para já, adotaram-se medidas de resseção do acesso à água potável e a Cidade do Cabo reduziu a quantidade de água de 87 litros/dia para 50 litros/dia por habitante. Este é apenas um sinal de alerta, porque outras Cidades irão enfrentar os mesmos problemas se não forem adotadas medidas urgentes na gestão deste recurso.
Na Cidade do Cabo, na África do Sul vive-se o receio de chegar o dia em que cada pessoa terá direito a apenas 25 litros de água potável/dia, como medida para implementar o racionamento. Se nos lembrarmos que as Nações Unidas estimam que cada ser humano precisa de pelo menos 110 litros de água/dia para satisfazer as suas necessidades básicas, e que uma torneira aberta durante 1 minuto pode gastar cerca de 12 litros de água, termos uma ideia bem real da dimensão do problema que enfrentamos atualmente.
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Temos que questionar o futuro da água

É preciso que a Humanidade esteja toda ela envolvida – população, autarquias, empresas e governo. É neste momento que nos devemos todos questionar: Porque continuamos a regar jardins ou espaços verdes com água potável? Porque continuamos a regar estes espaços em plena hora de calor? Porque limitamos o uso de água reciclável na rega destas zonas? Porque não adotamos sistemas inteligentes que adotam a rega às necessidades (temperatura, evapotranspiração, humidade)? Porque regamos os espaços verdes e tudo o que os rodeia, numa total falta de eficiência? Porque queremos ter carros impecavelmente brilhantes em tempo de seca? Porque não implementar uma rede de monitorização eficaz, e a alocação de meios financeiros para a sua manutenção, como uma das prioridades para gerir este recurso?
Sabemos que os impactes da seca são graves e identificáveis, que afetam, não só as necessidades básicas à vida, como são críticas para a agricultura, provocando quebras de produtividade ou danos relevantes para a indústria, num momento em que a Europa enfrenta um conflito armado sem fim à vista e o Mundo se vê a braços com uma recessão crescente, numa trilogia com efeitos que poderão levar a um cenário catastrófico para a vida.
Há quem procure as soluções através de tecnologia de dessalinização, por diversos métodos e meios, acelerando a pesquisa e investigação nesta área, para que ninguém fique sem água. Mais desenvolvidas, menos desenvolvidas, mais dispendiosas, menos dispendiosas, mais rápidas ou mais demoradas, o que é certo é que, atualmente, não são a resposta eficaz, e adequada com os requisitos sanitários e de saúde, para produzir água doce potável para toda a humanidade. A chave está na gestão do recurso, no planeamento do uso e consumo. Mas como o consumo não tem sido eficiente, e continua a não ser, será provável que a situação de seca extrema, que tem sido cada vez mais frequente, volte em breve.
É preciso colocar a “Água” no centro dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU (Objetivo 6), que reforça a importância, o direito e a necessidade de garantir o acesso universal e equitativo à água potável e ao saneamento até 2030.

* Especialista Sénior em Sustentabilidade (Gestão de Resíduos e Ambiente)

Doutoranda em Engenharia do Ambiente no IST (investigadora na área do amianto)

Fundadora e Presidente da SOS AMIANTO - Associação Portuguesa de Proteção Contra o Amianto

Autora do livro "Não Há Planeta B: Dicas e Truques para um Ambiente Sustentável"

Conselheira do CES - Conselho Económico e Social, pela CPADA, em representação das Associações Nacionais de Defesa do Ambiente

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