Um estudo realizado pela Lisboa E-Nova – Agência de Energia e Ambiente de Lisboa, em parceria com o Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e que contou com a colaboração do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, revelou que mais de metade dos residentes em Lisboa sofrem desconforto térmico em suas casas, tanto durante o inverno, como no verão. Este está frequentemente associado às condições das habitações e à falta de recursos financeiros para assegurar um ambiente mais confortável.
Mais de metade dos participantes referiram sentir, pelo menos algumas vezes, desconforto térmico dentro de suas casas no verão (56,5%) e quase dois terços no inverno (63,2%). Cerca de um quarto da amostra indicou que as suas casas estão muitas vezes demasiado quentes ou demasiado frias, consoante a estação do ano.
O desconforto térmico apenas no verão foi mais frequente em casas arrendadas, em apartamentos cobertura, com menor número de divisões e sem espaços exteriores. Já o desconforto térmico apenas no inverno foi mais frequente em habitações de agregados familiares com rendimentos mais baixos, construídas antes de 1960 e com janelas com caixilharias de madeira.
O desconforto térmico revelou-se mais frequente entre pessoas em situações financeiras difíceis ou muito difíceis. Cerca de 22% dos inquiridos indicaram que não conseguem manter uma temperatura confortável no inverno devido a limitações financeiras, uma percentagem acima da média nacional reportada pelo Eurostat, que é de 20,8%.
As condições das habitações também desempenham um papel significativo. Problemas como o fraco isolamento de janelas e portas, a presença de humidade e bolor, e uma ventilação inadequada são frequentemente mencionados pelos inquiridos.
Além disso, foi observada uma correlação entre a antiguidade dos edifícios e o desconforto térmico, sendo este mais comum em edifícios construídos antes de 1960, que geralmente carecem de isolamento adequado.
Entre as estratégias mais utilizadas para evitar ou reduzir o frio em casa pelos participantes no inverno, a maioria (85,5%) opta por vestir e calçar roupa mais quente, reforçar a roupa da cama com mais mantas ou edredões (79,5%) e usar equipamentos de aquecimento (74,7%). A maioria (95,3%) recorre a aquecedores elétricos de baixa eficiência, enquanto apenas 6,7% dispõem de sistemas de aquecimento central.
Já no verão, apesar de um terço das habitações estar equipado com ar condicionado, apenas 13,1% dos inquiridos utilizam o equipamento sempre que necessário. As estratégias para evitar ou reduzir o calor em casa mais utilizadas foram evitar o aquecimento da casa fechando os estores quando a luz solar é mais intensa (69,0%), manter janelas e portas abertas, criando corrente de ar (68,0%) e utilização de equipamentos de arrefecimento ou de ventilação (58,9%).
Já os equipamentos de ventilação/arrefecimento mais utilizados foram as ventoinhas ou colunas de ar (mais frequente entre participantes com a casa desconfortável), seguindo do ar condicionado. A utilização de arrefecimento central foi muito residual (1,6%), sendo a bomba de calor com distribuição por ventiloconvetores a opção mais frequente (1,4%).
Outro ponto em destaque é o baixo uso de janelas com vidros duplos, presentes em apenas 20% das habitações analisadas. Este fator contribui para a perda de calor no inverno e o aquecimento excessivo no verão, agravando o desconforto.
Quando questionados sobre a classe energética da habitação, 42,8% dos inquiridos sobre o inverno não soube dizer se a sua habitação tem ou não classe energética atribuída. Dos que afirmaram ter classe energética, cerca de metade não sabia precisá-la. A classe energética mais frequentemente indicada foi a C (29,8%), seguida da B (23,1%).
O estudo também revelou uma lacuna significativa na informação sobre programas de apoio para melhorar a eficiência energética das habitações. Entre 30% e 40% dos inquiridos não tinham conhecimento de tais programas, evidenciando a necessidade de uma maior divulgação destas iniciativas.
Os resultados do estudo foram apresentados numa sessão pública no CIUL – Centro de Informação Urbana de Lisboa, que reuniu especialistas e representantes de várias entidades. Durante o evento, a vereadora da Habitação e Desenvolvimento Local da Câmara Municipal de Lisboa, Filipa Roseta, destacou a importância das políticas habitacionais na redução da pobreza energética e na melhoria das condições de conforto térmico em Lisboa.
Entre as soluções propostas destaque para o reforço do isolamento térmico, a substituição de janelas antigas por outras com vidro duplo e a promoção de sistemas de aquecimento e arrefecimento mais eficientes. Programas como o PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) foram apontados como cruciais para financiar melhorias na eficiência energética das habitações.
O estudo reforça a urgência de medidas que não apenas melhorem as condições de habitação, mas promovam uma maior sensibilização da população sobre a importância da eficiência energética. Num contexto de crises climáticas e energéticas, garantir conforto térmico é essencial para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e mitigar desigualdades sociais em Lisboa.
O inquérito realizou-se no seguimento de um estudo piloto sobre Pobreza Energética, também promovido pela Lisboa E-Nova, em conjunto com a AdEPorto, Agência de Energia do Porto, realizado entre 2021 e 2022.
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