Portugal é um dos países mais frios da Europa quanto à sensação e conforto térmico no interior dos edifícios, quer sejam residenciais, comerciais, empresariais ou públicos. E quando existem sistemas de aquecimento/arrefecimento, os custos de funcionamento e de consumo são um encargo pesado tanto para as para famílias, como para as organizações.
Mas a questão do conforto térmico e da pobreza energética não se coloca apenas do ponto de vista da qualidade e das regras de construção dos edifícios. Há que questionar e refletir sobre outras temáticas, como o estudo prévio das melhores soluções, o desenho em projeto, a infraestruturação em obra e a seleção de sistemas de climatização eficientes, recorrendo a produtos de qualidade e durabilidade, bem como a instalação por técnicos certificados.
A Giacomini quis juntar em torno desta discussão tanto as entidades responsáveis, como as indústrias da construção, da fabricação e da comercialização de soluções de climatização, mas também arquitetos e engenheiros, profissionais da construção e instalação, importadores e distribuidores, e todos os que compartilham responsabilidades e tarefas nesta área. O resultado traduziu-se no 3.º Congresso Internacional da Giacomini, organizado em parceria com a Sanitop, desta vez sob o mote 'Edifícios do Futuro'.
Coube a Jorge Bonito Santos, presidente do conselho de administração da Construção Pública, E.P.E., em representação da Secretária de Estado da Habitação, bem como a Miguel Amado, vice-presidente do Instituto Superior Técnico, conduzirem a sessão de abertura, a que se seguiu a palestra de Paulo Pardelha, diretor do departamento de planeamento urbano na Câmara Municipal de Lisboa sobre planeamento urbanístico da cidade de Lisboa.
Já Rui Fragoso, diretor do departamento de Edifícios e Eficiência de Recursos da ADENE, abordou a Diretiva Europeia sobre o desempenho energético dos edifícios (EPBD). E, se nos novos projetos de construção, os problemas não se colocam, o mesmo não se pode dizer quanto à reabilitação dos edifícios antigos, já que se colocam vários desafios.
Sobre as normas mínimas de desempenho energético em edifícios não residenciais (MEPS), “com base no stock de edifícios em 2020, os Estados-Membros estabelecem dois limiares de desempenho energético de 16% e 26%. Até 2030, todos os edifícios não residenciais estão abaixo do limiar de 16% do stock de edifícios”, referiu. “Até 2033, todos os edifícios não residenciais estão abaixo do limiar de 26% do stock de edifícios”.
Estes limiares podem corresponder “a uma classe energética ou um valor em kWh/m2ano. O cumprimento dos limiares, por cada edifício, deve ser verificado com base em certificados energéticos ou outros meios disponíveis”, referiu. “O Plano Nacional de Renovação dos Edifícios estabelece limiares para 2040 e 2050”.
Rui Fragoso abordou ainda os edifícios com emissões nulas (ZEB), “os chamados edifícios zero. A partir de 1 de janeiro de 2028, todos os edifícios detidos por organismos públicos devem ser edifícios com emissões nulas, o que também se aplica aos edifícios novos a partir de 1 de janeiro de 2030”.
Mas quais os requisitos para um edifício ZEB? “Não deve emitir quaisquer emissões de carbono provenientes de combustíveis fósseis no local, deve cumprir um limiar máximo para as necessidades de energia, pelo menos 10% inferior a nZEB e, se viável, reagir a sinais externos e adaptar a sua utilização, produção ou armazenamento de energia”. Já a utilização anual total de energia primária deve ser coberta por “energia proveniente de fontes renováveis produzida no local ou nas proximidades, energia renovável fornecida por uma comunidade de energia renovável, energia proveniente de um sistema de aquecimento e arrefecimento urbano eficiente ou de fontes sem carbono”.
Também vai ser necessário um passaporte de renovação, ou seja, um documento que contém “um roteiro adaptado para a renovação profunda de um determinado edifício num número de etapas sequenciais que contemplam medidas de melhoria”. Estes passaportes digitais, emitidos por um perito qualificado, são “voluntários para os proprietários dos edifícios e articulados com o certificado energético, que vão passar para a terceira geração, com uma escala de A a G, ficando armazenados no caderno digital do edifício”.
Rui Fragoso terminou a apresentação com uma lista dos principais desafios, nomeadamente “a complexidade e interação/dependência entre os vários artigos da EPBD, o novo standard para edifícios ZEB, as novas metodologias de cálculo do desempenho energético, o novo passaporte em articulação com o certificado energético, bem como o prazo para os Estados-Membros implementarem a EPBD”.
Coube a Rui Correia, CEO da LoftSpace, apresentar vários casos práticos de projetos de edifícios com climatização radiante, mais concretamente dois edifícios públicos e um privado. Neste último caso, foi apresentado o projeto da unidade de cuidados continuados, centro de dia e habitação coletiva, a custos controlados, em construção em Oeiras e com data de conclusão prevista para março de 2026. No edifício foi aplicado piso radiante e um painel solar por habitação.
Francisco Fernandes, diretor técnico de Inovação e Desenvolvimento da Energie, centrou atenções no contributo das bombas de calor para a descarbonização dos edifícios. Depois de apresentar os números de vendas, que registam uma queda em 2023 após 10 anos de crescimento, revelou que “existem agora 23,96 milhões de bombas de calor instaladas nos edifícios europeus”, sendo que a meta está fixada em “60 milhões de unidades em 2030”.
Francisco Fernandes lembrou que “as 24 milhões de bombas de calor instaladas na Europa evitam gases com efeito de estufa (emissões equivalentes) à retirada de 7,5 milhões de carros das estradas”, sendo que “as metas REPowerEU exigem que a quantidade de bombas de calor recentemente instaladas duplique a cada quatro anos. A EHPA estima que tal levaria a mais 60 milhões de unidades instaladas até 2030, em comparação com os 17 milhões (REPowerEU em 2021)”.
Entre os benefícios da instalação de 60 milhões de bombas de calor na EU até 2030, Francisco Fernandes destacou “três milhões de empregos, queda de 46% nas emissões de CO2, redução de 40% nas emissões de Nox, crescimento de 2,5% da economia e 60 mil milhões de euros poupados em importação de energia”.
Wim Gijbels, diretor de engenharia da Giacomini Benelux, apresentou as vantagens dos combustores a hidrogénio na produção de calor. O setor da construção olha para o hidrogénio como uma solução eficiente e sustentável para a climatização e aquecimento de águas. Wim Gijbels apresentou um projeto inovador no Benelux, que usa esta fonte de energia limpa.
O projeto InnovaHub District utiliza o hidrogénio como recurso energético, com a gestão a ser assegurada através de inteligência artificial, tornando o sistema de aquecimento/arrefecimento dos espaços e de calefação das águas mais eficiente e sustentável. Desta forma, o hidrogénio permite às autarquias, projetistas e indústria adaptarem-se às atuais exigências europeias em matéria de descarbonização.
Para Vasco Silva, diretor-geral da Giacomini Portugal, “há soluções inovadoras já testadas com êxito noutros países europeus, como é o caso da Bélgica e dos Países Baixos, que podem ser facilmente replicadas em Portugal. O Hidrogénio verde é o futuro”, destacou.
Após o coffee break, José de Matos, secretário-geral da APCMC - Associação Portuguesa de Comerciantes de Materiais de Construção, abordou o setor da construção e o futuro da eficiência energética, destacando que o principal problema em Portugal é a falta de dinheiro: "ou não se tem dinheiro para aquecer/arrefecer as casas ou há falta de eficiência nas casas”.
Destacou ainda a falta de profissionais no setor da construção e deu a conhecer o IPRO – Instituto para a Promoção dos Profissionais da Construção, para aumentar a atratividade do setor. Uma iniciativa “dos agentes de mercado para promover e reconhecer as qualificações e atividades profissionais que sejam consideradas de interesse, que se soma ao reconhecimento oficial de competências profissionais obtidas pela formação ou pelo sistema de RVCC”.
Este reconhecimento culmina com a emissão de um cartão personalizado, no qual é inscrita a atribuição de competências ao candidato, por parte do IPRO.
Já perto do fim, Diogo Duarte, do departamento de engenharia da Giacomini Portugal, apresentou várias tecnologias para o futuro do AVAC: caldeiras a hidrogénio, AQS com booster plate e equilíbrio dinâmico. “Temos de arranjar tecnologias que permitam maximizar o conforto e diminuir os custos”, lembrou.
Aproveitou a ocasião para dar a conhecer o projeto Hydrogem 5, um protótipo para o futuro que vai ser apresentado em março, na feira de Frankfurt. Isto porque, na sua perspetiva, “o futuro do AVAC passa por um mix energético e de várias tecnologias através de fontes renováveis”.
O evento terminou com Ana Rodrigues, psicóloga e professora convidada da Universidade do Minho a lembrar a importância de prestar atenção às nossas emoções através da palestra Inteligência emocional nas empresas, na vida e no futuro sustentável.
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