Carmen Lima*
11/07/2025Cada vez mais é reforçada a necessidade de reduzir emissões, adotar práticas mais responsáveis, bem como a transparência em reportar impactes ambientais e sociais das organizações, atendendo ao seu compromisso ético, por forma a minimizar potenciais riscos financeiros, reputacionais e legais, significativos para as empresas.
Nesta matéria, Larry Fink, CEO da BlackRock, veio provocar um ponto de viragem na natureza do investimento global, quando em 2020 afirmou na sua carta anual aos CEO, que “o risco climático é risco de investimento”. Este foi o momento em que os investidores e as empresas começaram a encarar o ESG (Environmental, Social and Governance) como parte de uma abordagem, não apenas por uma questão de ética, mas como uma ferramenta estratégica para geração de valor a longo prazo - tornando o risco ambiental numa componente central da análise financeira. Através da sua influência enquanto maior gestora de ativos do mundo, a BlackRock impulsionou grandes empresas a adotarem planos de transição climática e pressionou conselhos de administração a implementarem práticas mais responsáveis. Como consequência, milhares de empresas passaram a encarar a integração de fatores de Sustentabilidade nas suas políticas não apenas como uma questão de reputação, mas como uma exigência de sobrevivência económica.
Carmen Lima, consultora para a Sustentabilidade
Posteriormente, os Relatórios do Fórum Económico Mundial (WEF) passaram a destacar os riscos ambientais, como sendo os mais prováveis e impactantes na próxima década, convergindo com a abordagem de Larry Fink, e impulsionando uma nova mentalidade no mundo financeiro - onde a gestão do tema Sustentabilidade deixou ter um carácter “opcional”, passando a assumir-se como “essencial” para a garantia da resiliência económica e da manutenção do valor dos ativos.
Os riscos ambientais (clima, extinção, sistemas termais, recursos naturais) estão entre os mais sérios a médio e longo prazo — sobretudo os climáticos, que lideram o ranking de preocupações por parte de líderes empresariais.
A sustentabilidade é agora central à avaliação de riscos financeiros: não é apenas “ambiental”, mas também um mecanismo de gestão de risco de portefólios, crédito, seguros e regulação bancária. Na Global Risks Perception Survey, cerca de 14 % dos gestores de risco identificam eventos climáticos extremos como principal ameaça económica.
Durante anos as questões ambientais, sociais e de governança (ESG) eram vistas como preocupações secundárias, ou até mesmo como obstáculos ao lucro. Atualmente, as empresas que ignorarem os fatores ESG enfrentam um maior risco regulatório, menor acesso a capital e perdas reputacionais. Por outro lado, aquelas que adotam uma abordagem mais sustentável ganham vantagem competitiva, atraem investidores e posicionam-se melhor para enfrentar os desafios do século XXI.
Estes acontecimentos contribuíram para que os mercados financeiros sejam vistos como agentes com um papel essencial na mitigação dos riscos globais (como fenómenos como o clima extremo, o colapso da biodiversidade e a transição energética desordenada), e que podem desestabilizar economias. Por outro lado, a alocação de capital, através da pressão para que as empresas incorporem esses riscos nas suas estratégias, promove uma nova arquitetura económica onde a Sustentabilidade, o investimento e resiliência global estão interligados, e focados em soluções de longo prazo, e assumem-se como uma prioridade económica global. A economia começou a ser redesenhada com base na transição energética, na gestão de riscos ESG e na valorização de empresas resilientes e sustentáveis, tornando a sustentabilidade um fator decisivo de competitividade e acesso a capital.
A BlackRock, por sua vez, deu o exemplo na gestão da Sustentabilidade global, redefinindo o papel do capital financeiro na transição ecológica e social, através da pressão junto das empresas para que estas integrarem os critérios ESG (ambientais, sociais e de governança) nas suas decisões estratégicas e operacionais, exigindo a apresentação de relatórios de risco climático, a promoção em investimentos sustentáveis (como ETFs verdes e obrigações climáticas), ou influenciando as votações em assembleias de acionistas, para o apoio a medidas ambientais e de transparência.
*Carmen Lima
Consultora para a Sustentabilidade
Doutoranda em Engenharia do Ambiente no IST, investigadora na área do Amianto
Presidente da SOS AMIANTO - Associação Portuguesa de Proteção Contra o Amianto
Autora do livro “Não Há Planeta B: Dicas e Truques para um Ambiente Sustentável”
Foi Conselheira do Conselho Económico e Social
“A sustentabilidade é agora central à avaliação de riscos financeiros: não é apenas 'ambiental', mas também um mecanismo de gestão de risco de portefólios, crédito, seguros e regulação bancária. Na Global Risks Perception Survey, cerca de 14 % dos gestores de risco identificam eventos climáticos extremos como principal ameaça económica”.
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